07/07/21 | São Paulo
Reportagem publicada no Infosolar
Diversos eventos podem levar a substituição antecipada dos equipamentos, como eventos climáticos, atualização tecnológica, falhas de instalação ou transporte
Uma tecnologia para ser totalmente sustentável não pode desconsiderar o destino final após seu ciclo de uso. Apesar de ser uma preocupação de médio e longo prazo, o setor de energia solar no Brasil já começa a se preocupar em como será feito o descarte de toneladas de resíduos que serão gerados por essa indústria no futuro.
Segundo o relatório The Global E-waste Monitor 2020 da ONU, o mundo produziu 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2019 (excluindo painel solar). A previsão para 2030 é superar a marca dos 74,7 milhões de toneladas ou 9 kg per capita. Na América do Sul, o Brasil liderou o ranking entre os países que mais produziram lixo eletrônico em 2019.
Em 2016, a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) estimou 78 milhões de toneladas de resíduos de painéis solares que serão descartadas em todo o mundo até 2050. Caso esses materiais descartados sejam totalmente reciclados e retornem à cadeia de produção, poderiam movimentar mais US$ 15 bilhões.
Diversos eventos podem levar a substituição antecipada dos equipamentos fotovoltaicos, seja por um uma questão climática (como o ciclone bomba em Rio do Sul, em Santa Catarina em 2020), atualização tecnológica, seja por falhas na instalação ou no transporte.
No Brasil não há um planejamento para administrar os eventuais impactos que o crescimento dessa tecnologia pode causar ao meio ambiente. No entanto, há empresas de olho nesse mercado de logística reversa, como a curitibana Recicla E-Waste Company Brasil, que é parceira da distribuidora de equipamentos solares Aldo.
Por meio do programa Aldo Crazy Recicla, todo o material coletado segue para descaracterização (desmontagem e separação por material), podendo ser reinserido na indústria como matéria prima.
Os painéis fotovoltaicos são constituídos, principalmente, por vidro, silício, fósforo, arsenieto de gálio e condutores metálicos de alta resistência que se descartados de forma inadequada podem afetar o meio ambiente.
Segundo Leonardo Gasparini Duarte, sócio proprietário da empresa SunR – Reciclagem Fotovoltaica, existem diversos fatores que provocam o descarte deste produto, e não somente após os 20 ou 25 anos de vida útil dos equipamentos.
“Existem descarte prematuro, tanto na produção como no transporte do painel. E com a crescente aumento a demanda tem ocorrido muitos erros nas instalações, isso gera um volume grande de resíduos”, disse Gasparini ao InfoSolar.
De acordo com Gasparini, atualmente são recicladas 4 toneladas de painéis fotovoltaicos por mês, pela empresa. “Após essa avaliação inicial, o primeiro passo é a retirada mecânica dos componentes e o que resta nós estocamos e depois destinados a indústria do metal, alumínio, vidro. Nós não descartamos esses materiais”, garante.
Pela Lei nº 12.305/2010 da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e seu regulamento, Decreto Nº 7.404/2010, a logística reversa é definida como um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.
O Governo Federal assinou o decreto 10.240/2020 que regulamenta o Acordo Setorial para a Logística Reversa de Eletroeletrônicos, incluindo os painéis fotovoltaicos. O documento reforça metas a serem cumpridas e a responsabilidade de fabricantes, distribuidores, importadores e varejistas.
Entretanto, segundos Gasparini, ainda falta uma política clara do governo brasileiro para a logística reversa de placas solares. “Usamos o exemplo da Europa, que usa a cobrança da coleta no início da produção material, quem fabrica ou importa esse material tem que pagar um imposto para que ele seja utilizado no recolhimento do material que deixará de ser utilizado”, exemplificou.
No Brasil, a energia fotovoltaica centralizada soma 3.360 MW em operação, representando cerca de 2% da matriz. As projeções do Plano Decenal de Energia 2030 prevê que o país terá 8.000 MW instalados ao final desta década, dobrando a participação da tecnologia na matriz.
Entretanto, o grande potencial de expansão da energia solar está na geração própria. Atualmente são mais de 6.000 MW em operação nessa modalidade, podendo chegar a 40 GW em 2031, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).