16/07/21 | São Paulo
Reportagem publicada no Canal Solar
Criação da norma visa diminuir o número de instalações que colocam em risco a segurança de pessoas e dos equipamentos
Atualmente, o Brasil ainda não possui uma norma específica para estruturas fotovoltaicas, mas isso deve mudar em breve.
Isso porque diversos profissionais estão se mobilizando para que seja criada uma norma ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para padronizar os requisitos técnicos das estruturas de fixação de módulos fotovoltaicos.
Em entrevista ao Canal Solar, profissionais do setor solar contaram como tem sido realizada os trabalhos para a elaboração de uma norma para o segmento de estruturas fotovoltaicas.
O Doutor Roberto Valer, cientista pesquisador na área de energia solar no Brasil, conta que o assunto começou a tomar corpo em dezembro de 2019 após uma reunião entre profissionais do setor.
“Levamos a proposta para a ABNT, que julgou propício que a norma fosse trabalhada dentro da comissão de estudos de sistemas de conversão fotovoltaica de Energia Solar (CE-003:082.001). Com isso, comecei a chamar todos os fabricantes para participarem da criação do Grupo de trabalho”, esclarece Valer.
Em paralelo com este trabalho, profissionais do segmento começaram a se mobilizar para também apoiar a criação desta norma. “Houve um problema em uma instalação e várias pessoas começaram a se manifestar. Um destes profissionais comentou que deveria ter uma norma, já que ao comprar um produto de um distribuidor subentende que o produto é correto”, relata Júlio Tavernaro, diretor comercial da SPIN Estruturas
Após esta discussão, Tavernaro entrou em contato com profissionais do segmento para dar continuidade ao assunto. “Criei um grupo no WhatsApp e chamei dois fabricantes que eu tenho contato pessoal. Um deles é o Ronaldo Koloszuk, da Solar Group, e a Vivian Regner, da K2. Chamei os dois e contei que estava criando um grupo no WhatsApp para criar um grupo de trabalho, entender o que precisa e começar a fazer a movimentação para a criação de uma normatização de estruturas”, conta.
Com esta movimentação, a mobilização em prol da criação da norma ganhou força ao passo que o DR. Valer atuava na comissão de estudos, unificando entre todos os profissionais que almejam esta norma.
Para Ronaldo Koloszuk, CEO da Solar Group, a expectativa é que normatização impacte o segmento de forma positiva. “É esperado que uma estrutura fotovoltaica tenha a durabilidade de, pelo menos, 25 anos. Por este motivo, a criação de uma norma trará mais segurança para o mercado solar, já que garantirá a qualidade destes equipamentos e das instalações. E, para isso, deverá ser considerado, entre outras coisas, o clima do Brasil, que impacta diretamente na qualidade das estruturas”, ressalta Koloszuk.
Koloszuk classifica esta mobilização como fundamental para o fortalecimento do setor. “Esta movimentação feita pelos fabricantes para que seja padronizado a eficiência das estruturas fotovoltaicas e suas instalações é muito saudável. Pois toda a cadeia produtiva trabalha em conjunto, trazendo mais tranquilidade e segurança aos integradores e clientes que investem em energia solar”, destaca o executivo.
A primeira reunião do GT 02, como foi designado pela ABNT, foi realizada, de forma online, em dezembro do ano passado. Neste encontro, foi definido o plano de trabalho que o grupo deve seguir para apresentar o formulário para a criação da norma na ABNT, além de explicar como é o processo para se criar uma norma.
Para Vivian Regner, gerente de Desenvolvimento de Produto e Vendas Técnicas na K2 Systems do Brasil, o assunto é de extrema relevância para o segmento. “Ainda não é dada tanta importância às estruturas como deveria ser dada, que é uma parte essencial do sistema. Porque não adianta você comprar o melhor módulo do mercado, instalar em uma estrutura qualquer e colocar tudo isso em risco”, destaca.
“A criação desta norma vai tirar com certeza as pequenas empresas que não estão levando a segurança a sério e será um grande passo com relação à segurança para todos os envolvidos. Todos os instaladores vão olhar que a empresa segue a norma e poderão se sentir seguros”, enfatiza Vivian.
“Como representante da K2 neste grupo, levei as normas internacionais para o comitê que foram cedidas a todos para que elas sejam discutidas para que tragam o melhor destas boas práticas para as práticas do Brasil. A ideia é que consigamos se equipar e seguir o nível do mercado internacional”, acrescenta.
Tavernaro ainda afirma que definir um único material para a fabricação das estruturas fotovoltaicas não é o objetivo do grupo. “É muito ruim para o mercado quando se padroniza um determinado material, porque você poda as pessoas e as empresas da criatividade. O mercado tem que ser aberto”, destaca.
“Não vai ter limitação de material. Queremos normatizar a eficiência do produto e não limitar características e tipos de materiais. Isto já foi pré definido pelo grupo. Nosso objetivo não é travar o mercado”, acrescenta.
O executivo também enfatiza que desta forma é garantida a continuidade do mercado e também incentiva o desenvolvimento de novas tecnologias. “Temos uma infinidade de materiais e produtos. Só a definição da matéria-prima não define a eficiência de um produto. Tudo depende do processo. Hoje os processos fabris são diferentes dos fabricantes A, B, C, D ou E. Cada um tem a sua expertise e o know how que vem do passado”, comenta.
Grupo de trabalho
Para a criação das normas, foi criado o GT02 – Estruturas, que integra a comissão de estudos de sistemas de conversão fotovoltaica de Energia Solar (CE-003:082.001). Como coordenador do GT, foi designado Raphael Vaz, Engenheiro de produtos na 2P Acessórios.
O engenheiro esclareceu que as reuniões tem sido realizadas de forma online desde dezembro do ano passado. Nestes encontros, os integrantes do grupos estão definindo os requisitos necessários para que a estrutura do sistema fotovoltaico se comporte como esperado. “Resistência dos materiais, resistência ao vento, à corrosão, entre outras características adequadas para o Brasil”, explica Vaz.
Segundo a ABNT, qualquer interessado pode apresentar à ABNT sua demanda, por meio do Formulário de Demanda, disponibilizado no site da associação. O documento deve ser preenchido com o máximo possível de informações, para facilitar o processo de análise da pertinência e relevância do assunto como Norma Brasileira.
A ABNT ainda destaca que aspectos importantes para a viabilização do processo:
Não é possível elaborar Norma Brasileira de um produto patenteado; É preciso ter apoio de outras partes interessadas, além do demandante; Para norma de produtos, é importante a existência de fabricante nacional; Se existe legislação (Leis, Resoluções, Regulamentos etc.); Se existe alguma norma técnica, em particular, norma internacional (normas da ISO ou IEC) ou norma estrangeira (normas de outros países). As demandas são analisadas pela ABNT e a partir daí dá-se o prosseguimento ou não à criação de Comitê, ou Comissão específico para o desenvolvimento do documento.
De acordo com a associação, a normalização é imprescindível para que produtos, processo e serviços garantam o mínimo de qualidade e segurança.