09/02/15 | São Paulo
Os projetos solares negociados no primeiro leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica para esta fonte apresentam fator de capacidade alinhado com os padrões internacionais. De acordo com uma nota técnica da EPE, o indicador varia de 17,3% a 19% nos empreendimentos com suporte fixo e de 19,7% a 22,6% naqueles com rastreamento leste-oeste do sol. Contudo, não é a questão técnica que poderá trazer dificuldades para os empreendedores e sim a equação financeira para o financiamento das plantas, principalmente neste momento em que o dólar se valorizou diante do real desde a realização do certame.
De acordo com a nota da EPE, o custo da energia solar negociada no LER do ano passado está entre as mais baratas do mundo ao se padronizar seu custo em dólares. Naquela oportunidade a cotação da moeda norte-americana era de R$ 2,45. Só que essa condição se alterou e o câmbio se depreciou ficando entre R$ 2,65 e R$ 2,70, o que muda as condições de competitividade dos projetos. Tanto é assim que na opinião do diretor da Yingli Solar no Brasil, Markus Vlasits, há a possibilidade de que projetos que venderam energia no país nem saiam do papel. “Eu não me preocupo com as incertezas técnicas é mais pelo lado da equação financeira pelo
lado tributário e com a questão do financiamento”, disse o representante da fabricante chinesa. Sobre a questão tributária, Vlasits lembra que o Brasil cobra mais imposto sobre os componentes para se montar um painel fotovoltaico no país do que se for importar o mesmo equipamento já montado.
Do lado técnico, continou ele, apesar de muitas das medições não terem sido feitas no local do projeto e sim por meio de dados obtidos por meio de satélites, as características dos projetos brasileiros são positivos e estão de acordo com o que se tem verificado em outros países. Como no Chile, Mexico e no sul dos Estados Unidos.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira da Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia, o que se viu no LER é o amplo domínio da tecnologia do silício multicristalino em função de ser um equipamento com performance já conhecida e de melhor custo benefícios. Fator também destacado por Vlasits. Outras tecnologias poderiam proporcionar maior fator de capacidade, mas as incertezas quanto ao real potencial de geração em uma determinada área acabou por fazer com que os investidores optassem pela tecnologia mais conhecida.
“Os projetos com suporte fixo demandam menos manutenção e aliado ao uso de paineis de silício monocristalino (chamados pela EPE de policristalinos) que são mais baratos por necessitarem de menos energia para serem produzidos temos fatores menores do que se poderia ter com sistemas de rastreamento em quatro eixos ou ainda na concentração de energia do sol que elevariam o fator a 25% e a até 30%, respectivamente”, apontou Sauaia. Mas essa situação poderá mudar a partir do ano que vem quando o Brasil obter maior volume de medições solarimétricas ‘in loco’.
“Não podemos dizer que a multicristalina é a solução mais adequada para o Brasil; é a mais madura no momento e cuja performance é mais conhecida”, acrescentou ele. Segundo dados internacionais citados por Sauaia, na produção internacional 65% dos painéis se utilizam dessa tecnologia, outros 20% são monocristalinos, 5% são de filme fino e o restante de outras tecnologias. Contudo, mesmo com a perspectiva de o Brasil ter o início da cadeia solar no país, investidores em projetos solares apontam que a
tecnologia de quase a totalidade dos parques negociados no LER é a mais adequada para o país. “A tecnologia policristalino é, neste momento, a mais recomendada para o nosso mercado em virtude da relação custo/benefício. No LER alguns fatores de capacidade foram maximizados devido à utilização dos rastreadores”, lembrou o presidente da Kroma Energia, Rodrigo Mello.
Mas para o executivo da Kroma, apesar do primeiro leilão em que a solar entrou, é necessário que se tenha um planejamento que aponte um horizonte de mais longo prazo. Segundo ele, somente assim é que o Brasil avançaria na consolidação de uma indústria nacional para a fonte, no mesmo sentido que a eólica seguiu.