11/01/24 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Petro Notícias
O tema de hoje (11) do Projeto Perspectivas 2024 é o setor solar fotovoltaico do Brasil. A fonte viveu um ano de crescimento robusto no país em 2023 e deve experimentar novamente essa maré positiva neste novo ano. É o que projeta o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (ABSOLAR), Rodrigo Sauaia.
Segundo ele, a energia solar no Brasil deve ter o acréscimo de 9,4 GW em 2024, elevando a potência instalada acumulada para 45,6 GW até o final do ano. Isso representa investimentos de 38,9 bilhões de reais, ainda de acordo com as projeções da ABSOLAR. “ Em resumo, a expectativa da ABSOLAR é que 2024 seja um ano robusto e de sólido desenvolvimento para a energia solar fotovoltaica. Entretanto, não será um período isento de desafios no horizonte e nas operações cotidianas do setor ”, afirma Sauaia.
O entrevistado comenta também que ainda existe um grande volume de subsídios para fontes poluentes e que esses recursos deveriam ser realocados na fonte solar fotovoltaica. Ele também alerta que ainda existem desafios relacionados à conexão de sistemas de geração distribuída no país que precisam ser superados.
Como foi o ano de 2023 para o setor solar?
O ano de 2023 foi desafiador para o setor solar fotovoltaico, apesar de também ter sido positivo em termos de desenvolvimento total do mercado e tecnologia. Os números finais da ABSOLAR, com um balanço completo do ano, serão divulgados agora em 2024. No entanto, já podemos antecipar com os números consolidados até meados de novembro que 2023 foi um ano de crescimento robusto para o mercado e o setor fotovoltaico, tornando-se um ano positivo do ponto de vista dos negócios.
A ABSOLAR projetava negócios na faixa de 10 GW e mais de 50 bilhões de reais em investimentos. De fato, já temos números parciais que ultrapassaram essas projeções, incluindo a geração de mais de 300 mil empregos no ano de 2023, sendo todos novos empregos. Isso evidencia que a fonte solar fotovoltaica continua a se afirmar como protagonista no avanço da matriz elétrica brasileira e na transição energética do país, contribuindo significativamente para a geração de empregos verdes de qualidade em todo o território nacional.
É importante ressaltar que em 2023 houve mudanças estratégicas e estruturais, com a chegada de novos governos estaduais, governo federal e um novo Congresso Nacional. Novas prioridades emergiram, destacando-se o fortalecimento da agenda de sustentabilidade e a preocupação com as mudanças climáticas no país.
A energia solar fotovoltaica destaca-se como uma forte aliada da sustentabilidade no Brasil. Atualmente, graças aos avanços de 2023, a energia solar fotovoltaica se consolida como a segunda maior fonte da matriz elétrica brasileira, com aproximadamente 16% da potência instalada, ficando atrás apenas das hidrelétricas. Com esse desenvolvimento, espera-se que a tecnologia, ao longo dos próximos anos e décadas, ultrapasse até mesmo as hidrelétricas, tornando-se a maior fonte de energia instalada no Brasil em geral. Essa previsão é baseada em dados da Bloomberg New Energy Finance e estima-se que tal marco ocorra por volta de 2040 a 2050, dependendo das políticas públicas que possam acelerar esse processo.
Quais sugestões gostaria de passar para o governo ou para o mercado com o objetivo de melhorar as condições de negócios no Brasil?
Para aprimorar o ambiente de negócios para energia solar fotovoltaica e outras tecnologias sustentáveis, é crucial destacar a importância de o governo federal reequilibrar os incentivos, políticas, programas e subsídios que apoiam diversas tecnologias de energia. Um estudo recente lançado pelo Inesc em 2023 analisou os subsídios para fontes de energia em 2022, revelando que as fontes fósseis receberam mais de 80 bilhões de reais em subsídios, enquanto as fontes renováveis receberam cerca de 15 bilhões de reais. Isso evidencia uma disparidade significativa em favor das fontes não renováveis.
Embora haja uma mudança de postura e discurso do poder público sobre a importância das energias renováveis e da transição energética, a estrutura governamental, as leis, os programas e os subsídios continuam favorecendo tecnologias poluentes e emissoras de gases de efeito estufa. A primeira recomendação para o governo federal é realocar desse espaço orçamentário, priorizando tecnologias limpas e sustentáveis, incluindo a energia solar fotovoltaica, em detrimento das fontes fósseis poluentes – que atualmente recebem a maior parte do apoio governamental.
Outro desafio enfrentado pelo setor é o acesso e a conexão às linhas de transmissão para usinas solares de grande porte. A fila de conexão dos sistemas de transmissão enfrenta desafios na organização e implementação. Muitos projetos de energia ainda não têm clareza sobre seu desenvolvimento, mas ocupam espaço nessa fila. Portanto, é crucial dar um passo inicial para aprimorar os processos de conexão, simplificando o acesso à rede de transmissão. É igualmente importante continuar o trabalho estruturante de leilões para expandir a infraestrutura de transmissão, organizando a fila de forma mais racional e priorizando projetos mais maduros e prontos para implementação.
Outro ponto estratégico e fundamental que o setor tem enfrentado são as negativas de conexão de sistemas de geração própria de energia solar. Esses sistemas desempenham um papel crucial ao aliviar o uso de termelétricas, que são caras e poluentes, além de preservarem a água dos reservatórios das hidrelétricas. No entanto, diversas distribuidoras no Brasil têm apresentado alegações ou negativas para a conexão desses sistemas de geração distribuída. Isso ocorre devido à interpretação que essas distribuidoras têm dado à regulamentação vigente.
Neste momento, é imperativo buscar melhorias regulatórias, além da fiscalização ativa por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o acompanhamento atento do Congresso Nacional. Essas ações são essenciais para garantir que os consumidores tenham assegurado o direito previsto na Lei 14.300/2022, que possibilita a geração e utilização de sua própria energia limpa e renovável, produzida localmente por meio de sistemas de geração distribuída.
Quais são as suas perspectivas de negócios dentro do seu setor para 2024?
Durante a terceira edição do Encontro Nacional da ABSOLAR, realizado nos dias 5 e 6 de dezembro de 2023, apresentamos uma projeção de mercado para o ano de 2024. A ABSOLAR espera que o setor possa adicionar 9,4 GW em 2024. Essa adição representará um crescimento robusto da energia solar fotovoltaica no Brasil, elevando a potência instalada acumulada para 45,6 GW até o final do ano. Esse avanço será particularmente significativo para o Brasil em 2024, mesmo diante dos desafios macroeconômicos, políticos e setoriais.
Quando analisamos os números de 2024, o avanço de 9,4 GW pode significar investimentos trazidos pela energia solar fotovoltaica para o Brasil que totalizarão 38,9 bilhões de reais. Além disso, espera-se a geração de mais de 280 mil empregos durante esse período, contribuindo significativamente para o desenvolvimento econômico. Esses investimentos também resultarão em uma arrecadação de 11,7 bilhões de reais para os cofres públicos. Esses dados destacam claramente que a energia solar fotovoltaica em 2024 será um poderoso motor para o progresso nas esferas social, ambiental e econômica.
No ano de 2024, ocorrerá a abertura do ambiente de contratação livre, possibilitando que consumidores de média tensão migrem do mercado regulado para o mercado livre de energia. Essa mudança apresenta uma oportunidade significativa para a energia solar fotovoltaica, que atualmente é a fonte mais competitiva no Brasil, apresentando o menor preço médio de venda e, portanto, sendo uma das opções mais atrativas para os consumidores no mercado livre. Dessa forma, a migração de clientes para o mercado livre pode representar uma oportunidade para o aumento do suprimento de energia solar, tanto de projetos existentes quanto de novos projetos que podem ser implementados com essa finalidade.
Em resumo, a expectativa da ABSOLAR é que 2024 seja um ano robusto e de sólido desenvolvimento para a energia solar fotovoltaica. Entretanto, não será um período isento de desafios no horizonte e nas operações cotidianas do setor. A ABSOLAR continuará trabalhando de maneira consistente e dedicada para contribuir com a construção da transição energética no Brasil, acreditando que a energia solar fotovoltaica desempenha um papel fundamental para acelerar essa transição.
A fonte solar é uma tecnologia que pode auxiliar na diversificação da matriz elétrica brasileira, capacitando os consumidores a se tornarem cada vez mais independentes e donos de sua própria energia. Além disso, a energia solar fotovoltaica contribuirá para os programas sociais do governo federal, alinhando-se de maneira significativa com as iniciativas prioritárias da nova gestão governamental.