O Domínio Chinês na Indústria Fotovoltaica: Uma Tempestade Perfeita para a Europa e os EUA

13/01/24 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Maistecnologia

Por Num mercado saturado, a indústria fotovoltaica chinesa tem vindo a consolidar o seu domínio de forma esmagadora, reduzindo para metade o preço dos painéis solares.

Esta realidade tem levado a que o mundo inteiro dependa da sua tecnologia, deixando os fabricantes na Europa e nos Estados Unidos fora da equação.

A tempestade perfeita surgiu com iniciativas como a lei de indústria de zero emissões líquidas e a lei federal de investimento em infraestrutura. Estas medidas, tomadas tanto na Europa como nos Estados Unidos, visam reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e promover a produção de energias renováveis.

Contudo, a intensa sobreoferta e os desafios logísticos acabaram por criar uma situação complicada para os fabricantes de painéis solares europeus e americanos. A competição com os preços extremamente baixos dos fabricantes chineses levou a um aumento do stock e, consequentemente, à expulsão destes fabricantes do mercado.

A China lidera a produção mundial de painéis solares há vários anos. A atual sobre produção provocou uma queda superior a 50% no preço dos seus módulos. Empresas como a espanhola Solaria estão a fechar compras a 9,3 cêntimos por watt, um valor 62% inferior ao do ano anterior. Isto não significa que um módulo fotovoltaico chinês seja de menor qualidade do que um europeu ou americano. A indústria chinesa tem vindo a introduzir melhorias contínuas na tecnologia, o que lhe permite agora viver dos rendimentos.

A fórmula é simples. Após um investimento de 130 mil milhões de dólares por parte do governo chinês, a indústria fotovoltaica do país viu as suas exportações dispararem no último ano. A situação complicou-se ainda mais com a ameaça de proibir a exportação de componentes fotovoltaicos para proteger o seu negócio.

Esta realidade colocou em xeque tanto os Estados Unidos como a Europa, que em 2018 eliminaram as barreiras à venda de painéis solares chineses para homogeneizar os preços. Não se prevê uma melhoria da situação com o aumento da procura previsto para os próximos anos, nem com a chegada de painéis de próxima geração. A China planeja produzir mais de 1.000 GW de capacidade em novas células do tipo N.

No seu último relatório, a distribuidora de componentes europeia pvXchange analisa a possibilidade de reconstruir uma cadeia de valor completa na Europa, com painéis solares comercializados de forma mais justa. No entanto, o relatório considera esta ideia um sonho inalcançável no futuro previsível, uma vez que os preços dos módulos são demasiado baixos e não há indícios de que vão aumentar ignificativamente.

Em vez de competir com a China na produção em larga escala, o relatório sugere que a Europa deveria focar-se em apoiar sistemas especializados e adaptados às suas necessidades regionais. Ou seja, uma possível via de liderança para a União Europeia seria investir em fabricantes de produtos fotovoltaicos mais adaptados e específicos, que já existem na indústria europeia, mas que não são produzidos em grande escala nem com grandes orçamentos.

A solução para a Europa poderá passar por investir em sistemas especializados e adaptados às suas necessidades regionais, em vez de competir com a China na produção em larga escala. No entanto, esta é uma tarefa que se afigura desafiante, dada a atual conjuntura do mercado.