05/03/24 | São Paulo
Reportagem publicada pela SIAMIG
Os investimentos em energia limpa aumentaram quase 50% de 2019 a 2023, atingindo US$ 1,8 trilhão (R$ 8,91 trilhões) no ano passado, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), autoridade máxima nesse assunto.
O crescimento da geração de eletricidade a partir da energia limpa superou o dobro do crescimento da geração a partir de combustíveis fósseis. A produção de eletricidade de baixas emissões cresceu cerca de 1.800 Terawatt-hora (TWh), apesar da estagnação da energia hidrelétrica e da queda da energia nuclear por causa da seca e das paradas forçadas da frota nuclear na União Europeia. Já a geração de eletricidade à base de combustíveis fósseis cresceu 850 TWh.
A agência credita esse movimento aos pacotes bilionários de estímulos aprovados pelos países durante a pandemia de Covid-19. Essa geração de energia verde evitou cerca de 2,2 bilhões de toneladas de emissões de CO2 anualmente. Sem ela, segundo a AIE, o aumento das emissões de CO2 globalmente no mesmo período teria sido mais de três vezes maior.
De acordo com o relatório Monitor de Mercado de Energia Limpa -cuja primeira edição foi divulgada ontem – a implementação global de energia limpa atingiu novos patamares em 2023, com adições anuais de energia solar fotovoltaica e eólica crescendo 85% e 60%, respectivamente.
Juntas, essas duas tecnologias fornecem cerca de 540 GW (gigawatts) de potência; em comparação, a capacidade total de geração de energia elétrica no Brasil é de 218 GW. Ainda assim, 90% desse acréscimo ficou concentrado na China, ecoando as narrativas de especialistas e políticos de países emergentes sobre a dificuldade de captar recursos internacionais para projetos verdes.
No final do ano passado, durante a COP28, 116 países, incluindo o Brasil, se comprometeram a triplicar a capacidade instalada de energias renováveis no mundo até 2030, alcançando cerca de 11 mil gigawatts. A China e os países desenvolvidos também foram responsáveis por 95% das vendas globais de carros elétricos.
No mundo todo essas vendas cresceram cerca de 35% em 2023, atingindo 14 milhões de veículos – um a cada cinco carros vendidos no mundo foram elétricos; na China foram um a cada três e na União Europeia um a cada quatro.
Já as adições de capacidade de eletrólise de hidrogênio cresceram 360% em 2023, mas a partir de uma base muito baixa, o que explica o aumento acentuado. Em 2022, o mundo tinha capacidade de produzir 131 megawatts (MW) de energia a partir dessa tecnologia e, em 2023, 600 MW. Em comparação, o salto de geração solar, por exemplo, foi de 228 GW para 420 GW (1 GW equivale a 1.000 MW).
O aumento na produção de hidrogênio verde se deveu em grande parte à China, que passou a União Europeia na capacidade de geração. Os Estados Unidos também aumentaram a velocidade de implantação, mas as adições anuais permaneceram modestas em termos absolutos.
Já as adições de capacidade nuclear caíram para 5,5 GW em 2023; em 2022 eram 7,9 GW. Ainda assim, de acordo com a AIE, cinco projetos de construção de novos reatores nucleares começaram em 2023 e, no início de 2024, havia 58 reatores em construção em todo o mundo -podendo acrescentar uma capacidade total de mais de 60 GW. A energia nuclear, vale ressaltar, não é renovável.
Por outro lado, a eficiência energética no mundo está avançando em passos bem mais lentos. A AIE avaliou uma melhoria na intensidade energética de cerca de 1% em 2023, quatro vezes menor do que o compromisso da COP28 de dobrar a taxa até 2030.
Aportes reduziram a demanda por combustíveis fósseis
De acordo com a AIE, esse aumento da capacidade instalada de energia renováveis entre 2019 e 2023 evitou uma demanda anual de energia de combustíveis fósseis de cerca de 25 exajoule (EJ). Isso equivale a 5% da demanda global total de combustíveis fósseis em todos os setores em 2023 ou quase a demanda total de energia do Japão e da Coreia do Sul juntos.
Esse acréscimo, por exemplo, evitou a queima de cerca de 580 milhões de toneladas equivalentes de carvão (Mtce) por ano, o que equivale à demanda anual de carvão para geração de eletricidade da Índia e da Indonésia juntas. O maior impulsionador da demanda de carvão evitada foi a implantação de energia solar fotovoltaica e energia eólica nos setores de eletricidade ao redor do mundo, com as duas tecnologias evitando cerca de 320 e 235 Mtce de demanda anual de carvão, respectivamente.
A demanda evitada de gás natural é de cerca de 180 bcm anualmente em termos de equivalente energético. A demanda evitada é maior do que as exportações de gás natural da Rússia para a União Europeia antes da Guerra da Ucrânia, que foram de cerca de 150 bcm em 2021.
A implementação de energia eólica e solar fotovoltaica fornece a maior parte dessa demanda evitada (155 bcm), embora a implantação de bombas de calor também tenha evitado cerca de 15 bcm da demanda anual.
Já a demanda evitada de petróleo chega a quase 1 milhões de barris por dia em termos de equivalente energético. Sem isso, a demanda de petróleo teria ultrapassado o nível pré-pandêmico em vez de permanecer ligeiramente abaixo em 2023 em termos de equivalente energético. Os carros elétricos forneceram a maioria da demanda de petróleo evitada.