26/06/24 | São Paulo
Artigo publicado no Canal Energia
Por: Rodrigo Sauaia – CEO da ABSOLAR | Ronaldo Koloszuk – Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR
As fontes renováveis em operação no Brasil, especialmente a fotovoltaica, podem ganhar mais um impulso importante com o desenvolvimento das novas tecnologias de hidrogênio verde (H2V) e armazenamento de energia elétrica (battery energy storage system – BESS), já que possuem sinergia direta com as energias solar e eólica. A implantação de projetos de H2V e BESS terá papel fundamental para aprofundar ainda mais a participação das fontes renováveis e contribuir para a descarbonização da matriz elétrica e da economia brasileiras.
Pujante em diversos países do mundo, o mercado de armazenamento no Brasil começa a dar seus primeiros passos. Ainda há a lacuna de arcabouços legal e regulatório robustos e de políticas públicas que estimulem seu uso no País. Neste sentido, há a necessidade de avançar com a construção de uma regulamentação favorável, processo em andamento na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio da Consulta Pública ANEEL nº 039/2023. Esta Consulta Pública, se bem conduzida pelo regulador, poderá representar para o armazenamento de energia elétrica uma mudança de paradigma, ou seja, uma evolução transformacional, em favor do uso da tecnologia no País. Isso inclui, entre outros pontos, a definição de regras claras para o agente armazenador, que tragam previsibilidade e segurança jurídica para investimentos em suas diversas aplicações na geração, transmissão, distribuição e no consumo de energia elétrica.
Outro dentre os principais desafios nesta área é a implementação de medidas para a equalização da carga tributária (redução de impostos sobre as baterias), justamente para tornar a tecnologia acessível a todas as camadas da população, para uso pelos consumidores. Atualmente, a carga tributária sobre baterias chega a somar mais de 80%, o que inviabiliza diversas aplicações possíveis no mercado. Equiparar estes impostos aos aplicados às fontes renováveis, uma medida de isonomia amplamente justificável, solucionaria a questão e abriria imensas oportunidades ao Brasil na atração de investimentos e geração de empregos verdes neste novo segmento, no qual não há arrecadação significativa do Governo Federal, nem de Estados ou Municípios.
Estudo recente da GIZ (Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit), aponta que o Brasil possui, atualmente, cerca de 150 megawatts-hora (MWh) em sistemas de armazenamento de energia elétrica implementados e em operação. A grande maioria desses sistemas são instalações de pequeno porte, localizadas em regiões remotas da Amazônia e no interior dos estados. Também existem alguns sistemas operados por clientes comerciais e industriais, bem como um de maior porte, na subestação de Registro, no estado de São Paulo, com capacidade de 60 MWh.
As baterias representam uma oportunidade estratégica para a ampliação das fontes renováveis, dadas suas múltiplas aplicações e inúmeros benefícios, podendo atender tanto consumidores residenciais, comerciais, industriais e rurais, com instalações próprias, bem como grandes agentes de geração, transmissão e distribuição que fornecem energia elétrica em larga escala ao País.
Com o hidrogênio verde, por sua vez, o Brasil pode iniciar uma trajetória nunca vista de desenvolvimento econômico, social e ambiental, a partir da aceleração do processo de transição energética que este combustível limpo e versátil pode proporcionar.
Segundo estudo da consultoria Mckinsey, o Brasil poderá dobrar o tamanho de sua matriz elétrica até 2040, exclusivamente para a produção do H2V. Isso significa um total de mais de R$ 1 trilhão em novos investimentos no período, destinados à geração de eletricidade, construção de novas linhas de transmissão e implantação de unidades fabris do combustível e de infraestruturas associadas, incluindo terminais portuários, dutos e armazenagem.
Na prática, o Brasil está diante da oportunidade de se tornar um dos maiores produtores e exportadores de hidrogênio verde do planeta, já que as economias mais desenvolvidas do mundo buscam fornecedores parceiros, capazes de produzir e entregar o H2V com preços competitivos. Além da exportação do combustível limpo, o H2V brasileiro terá papel importante no mercado doméstico, contribuindo para o atingimento das metas de sustentabilidade e métricas ESG, inclusive em setores e atividades produtivas de difícil descarbonização, como siderurgia e transporte pesado, por exemplo.
Diante das promissoras perspectivas desses dois mercados no País, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) receberá, em sua sede, autoridades públicas, representantes do setor produtivo, especialistas e lideranças e associados da Associação Brasileira de Energia Fotovoltaica (ABSOLAR), para um grande debate sobre novos negócios que têm surgido nestas áreas. Organizado pela ABSOLAR, o encontro acontece no próximo dia 3 de abril, a partir das 8 horas.
A transição energética no Brasil e no mundo passa pela ampliação dos investimentos em fontes renováveis, combinados com as tecnologias de armazenamento de energia elétrica e de hidrogênio verde. Neste momento, o desafio do País é destravar estes imensos novos mercados, com potencial de atração de investimentos bilionários, geração de milhares de empregos verdes, aumento de segurança de suprimento de energia e mais autonomia para os consumidores e a própria sociedade.