26/06/24 | São Paulo
Artigo publicado no Fotovolt
Por: Maykow Torres – CEO da Fortlev | Rodrigo Sauaia – CEO da ABSOLAR | Ronaldo Koloszuk – Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR
Na última década, o setor solar fotovoltaico brasileiro tem vivenciado um crescimento robusto, impulsionado por uma combinação de fatores favoráveis, incluindo a excelente disponibilidade de recurso solar em todas as regiões do País, o desenvolvimento e implementação de políticas públicas adequadas para a tecnologia em território nacional, as melhorias na regulamentação, a crescente conscientização sobre sustentabilidade e a evolução da tecnologia, com forte redução dos preços de seus equipamentos. Apenas nos últimos sete anos, a capacidade instalada da fonte solar fotovoltaica no Brasil aumentou mais de 40 vezes, saltando de aproximadamente 1 gigawatt (GW) em 2017 para mais de 42 GW nos primeiros meses de 2024.
Este cenário promissor, entretanto, vem acompanhado de desafios inerentes a um mercado em rápida evolução, bem como de oportunidades únicas para empreendedores, investidores e consumidores. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), em 2023 o setor solar trouxe ao Brasil investimentos que superam os R$ 59 bilhões, evidenciando o potencial socioeconômico e a confiança no mercado solar brasileiro.
Um dos principais desafios enfrentados pelo setor solar brasileiro é a volatilidade dos preços dos componentes e equipamentos fotovoltaicos, especialmente módulos fotovoltaicos, inversores e estruturas de suporte. Esta volatilidade é influenciada por uma série de fatores globais, incluindo flutuações nas tarifas de importação, variações cambiais e a dinâmica internacional da oferta e demanda por estes componentes e equipamentos nos mercados.
A complexidade da cadeia de suprimentos global de componentes e equipamentos fotovoltaicos repercute na disponibilidade e no custo dos produtos em diversos mercados, incluindo o Brasil. Alguns eventos mais recentes, como o ataque pirata no canal de Suez, secas no canal do Panamá, disputa por disponibilidade de espaço nas embarcações que fazem a logística internacional de bens, crescentes tensões geopolíticas e conflitos armados em certas parte do globo, podem trazer efeitos diretos e indiretos nos mercados fotovoltaicos.
Neste contexto, o Brasil tem assumido um protagonismo importante na transição energética global, impulsionado sobretudo pelo avanço dos investimentos na expansão da geração a partir de fontes renováveis, com destaque para a solar, especialmente a partir de 2012.
Um dos pontos centrais neste processo é o maior acesso da tecnologia fotovoltaica pela sociedade em geral, resultado dos fortes investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação realizados pelo setor. A consequência destes investimentos foi uma significativa redução de preços nos equipamentos aos consumidores, empreendedores e produtores rurais brasileiros.
Estima-se que, em 2023, os módulos fotovoltaicos ficaram cerca de 50% mais baratos em relação ao ano anterior, fruto, em grande medida, das positivas relações comerciais com parceiros internacionais e do avanço do ambiente interno de negócios. Um fator determinante que contribuiu para essa queda é o aumento expressivo da capacidade produtiva global dos equipamentos no último ano.
A rápida mudança de preços em componentes e equipamentos tem provocado uma competição positiva em termos de relevância no mercado. Com isso, empresas bem-informadas sobre o ambiente doméstico e externo aproveitam as janelas de oportunidades que surgem neste processo para inovar nas suas operações, de forma a contribuir diretamente para a diminuição dos custos totais (capital expenditure – CAPEX) de um sistema solar, fazendo com que produtos nacionais também ocupem um papel determinante no processo de precificação.
Como exemplo, estão as recentes em estruturas de suporte para uso em telhados e em solo, com fabricação nacional, ainda mais leves, dinâmicas e práticas para montagem de usinas solares. Estes componentes nacionais contribuem, de forma positiva, para a redução do custo nivelado de energia elétrica (levelized cost of electricity – LCOE) gerada a partir de sistemas fotovoltaicos. Tais tecnologias também melhoram a eficiência e a qualidade dos sistemas fotovoltaicos oferecidos.
Adicionalmente, há diversos componentes nacionais que são cada vez mais relevantes para o setor solar fotovoltaico brasileiro, incluindo: rastreadores solares (trackers), materiais elétricos (cabos, caixas de junção, quadros elétricos), transformadores, entre outros. A demanda crescente por estes componentes também contribui para o fortalecimento da demanda por matérias primas nacionais, agregando valor para indústrias de base do País, responsáveis pela produção de alumínio, aço, polímeros e outros componentes fundamentais na produção dos produtos fotovoltaicos nacionais.
Portanto, o setor solar no Brasil tem uma oportunidade única para crescimento e fortalecimento ainda maiores. É notável o crescente protagonismo de uma inteligência doméstica, que se alia às tecnologias externas. Todos ganham com tais evoluções: consumidores, empreendedores, fabricantes, investidores, governos e, principalmente, a população e a sociedade brasileiras.