24/11/24 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Eixos
“Somos campeões em biocombustíveis, avançamos na geração eólica e solar e em hidrogênio verde”, disse o presidente Lula (PT), ao final da reunião de líderes do G20, no Rio de Janeiro, que marcou vitórias da diplomacia brasileira, incluindo no setor de energia.
A declaração final do G20 trouxe elementos defendidos pelo Brasil na agenda global da transição energética, ao reconhecer princípios como neutralidade tecnológica, padrões comuns de contabilidade de carbono, consideração de características locais e direcionamento de financiamento para países emergentes.
O texto abre caminhos para que o Brasil se consolide como líder na produção de hidrogênio produzido a partir de todas as rotas.
É uma porta estratégica para que o país, que tem o potencial de produção de hidrogênio verde, por eletrólise, também se consolide como grande produtor de hidrogênio a partir da biomassa, em especial do etanol, apelidado por alguns como “hidrogênio verde e amarelo”, numa alusão à bandeira nacional.
Um dos pontos mais significativos da declaração do G20 é a adoção da neutralidade tecnológica como princípio da transição energética justa. O documento reconhece, assim, uma abordagem mais flexível, permitindo que os países explorem múltiplas tecnologias com o fim de se alcançar a neutralidade em carbono.
É um contraponto a algumas políticas públicas, em especial da União Europeia, que muitas vezes limitam recursos e subsídios a soluções específicas, como a eletrificação ou o hidrogênio produzido exclusivamente por eletrólise com fontes renováveis.
Para o Brasil, que possui uma economia fortemente baseada no agronegócio, essa decisão é crucial. O hidrogênio produzido a partir da biomassa, utilizando resíduos agropecuários e agrícolas, é uma oportunidade única.
Estima-se que apenas o potencial técnico disponível nas plantas de biodigestão em operação hoje no Brasil poderia gerar 5,7 milhões de toneladas de hidrogênio, volume equivalente a 23% do consumo global atual, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Esse recurso, proveniente de resíduos de cana-de-açúcar, soja, milho e produção animal, transforma um passivo ambiental em ativo econômico.
Além disso, há avanços significativos em pesquisas para produzir hidrogênio por meio da reforma do etanol, com suporte de consórcios entre grandes empresas, como Shell e Toyota.
Essa solução aproveita um combustível já amplamente distribuído no Brasil, reduzindo custos logísticos e criando uma rota de transição mais viável economicamente, uma vez que aproveita a infraestrutura de combustíveis líquidos já existente.
Apesar de seu grande potencial, a produção de hidrogênio a partir da biomassa, assim como os biocombustíveis, enfrenta um obstáculo central: a aceitação internacional.