10/11/23 | São Paulo
Artigo escrito por Bruno Catta Preta, Diretor da Genyx e Coordenador Estadual da ABSOLAR em Minas Gerais; Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR e Ronaldo Koloszuk, Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR
A energia elétrica é o motor do desenvolvimento de qualquer região. Em Minas Gerais, a Companhia Energética do Estado (Cemig) possui responsabilidades cruciais nesse cenário. Conforme previsto em seu contrato de concessão, a distribuidora deve garantir que a eletricidade chegue às residências, pequenos negócios e produtores rurais mineiros, com a devida qualidade. Trata-se de serviço imprescindível e essencial ao crescimento econômico e às atividades dos setores produtivos de Minas Gerais, incluindo a fabricação de bens, comércio de mercadorias, prestação de serviços, atividades de agricultura e também para a prestação de serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e segurança pública. No entanto, a demora na conclusão de obras de ampliação da infraestrutura pode acarretar enormes prejuízos à sociedade mineira e deve ser monitorada de perto pelas autoridades e meios de comunicação.
A Cemig enfrenta desafios significativos, como a necessidade de expandir a capacidade de geração distribuída para impulsionar o desenvolvimento do Estado. A geração distribuída a partir de fontes renováveis não apenas contribui para o setor elétrico, mas também gera empregos e riqueza para Minas Gerais, que divide com São Paulo a liderança da geração distribuída solar no País. Por isso, é crucial que a distribuidora acelere a construção da infraestrutura necessária para atender essa crescente demanda da sociedade.
Desde 2012, a Cemig já autorizou a conexão de 236 mil unidades de geração distribuída em Minas Gerais, com uma capacidade instalada de cerca de 3 gigawatts (GW). A expectativa da concessionária é mais do que dobrar essas aprovações de conexão até 2027.
O Programa Mais Energia da Cemig está fazendo um investimento substancial no Estado, com a expansão de 200 subestações até 2027. Essa iniciativa representa um investimento de cerca de R$ 159 milhões em reformas, substituição de equipamentos e ampliação de subestações existentes, além da construção de novas subestações em municípios estratégicos, segundo os dados da própria distribuidora. Porém, a demora na entrega das obras de infraestrutura é um fator complicador e a falta de linhas de distribuição, transformadores e subestações se tornou um obstáculo para o desenvolvimento da geração renovável em Minas Gerais. O déficit
de instalações adequadas é frequentemente a causa de negativas em pedidos para novas conexões de geração distribuída solar.
A Cemig tem alegado que a rede de distribuição está sobrecarregada ou com equipamentos obsoletos, como justificativa para negar muitos pedidos de ligação. Como resultado, consumidores e profissionais do setor enfrentam longos atrasos na conclusão de suas instalações, perda de clientes e investimentos e perda de empregos e de renda para os trabalhadores mineiros do setor solar.
Para entender o impacto disso, um relatório publicado pela Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA), em 2023, mostrou que 13,7 milhões de pessoas em todo o mundo trabalharam diretamente com energias renováveis em 2022, um aumento de 1 milhão de novos empregos em relação ao ano anterior.
Segundo a IRENA, apenas no setor de energia fotovoltaica, estima-se que tenham sido criados mais de 200 mil empregos no Brasil em 2022, em comparação com 115 mil em 2021. Além disso, desde 2012, o setor solar fotovoltaico gerou mais de 1 milhão novos postos de trabalho acumulados no Brasil, com mais de 90 mil deles em Minas Gerais, sendo 72% na área de instalação.
Agora, imagine parte desse mercado de trabalho ficando parado por falta de documentação probatória e falta de acesso às redes de distribuição.
A energia solar desempenha um papel cada vez mais crucial no sistema elétrico brasileiro como a segunda maior fonte de geração em termos de capacidade instalada operacional na matriz elétrica nacional, ficando atrás apenas das hidrelétricas. A energia fotovoltaica continua a crescer, com mais de 24 GW instalados em residências, comércios, indústrias e propriedades rurais. Em 2023, quase 500 mil novos sistemas solares já foram conectados à matriz, fornecendo eletricidade limpa, renovável e competitiva para 671 mil novos clientes e somando praticamente 6 GW de capacidade instalada adicionada.
Minas Gerais é o segundo estado brasileiro com maior potência instalada de geração solar em telhados e pequenos terrenos. Segundo recente mapeamento da ABSOLAR, a região supera a marca de 3,1 gigawatts (GW) em operação nas residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos.
O território mineiro responde sozinho por 13,4% de toda a potência instalada de energia solar na modalidade e possui mais de 253,2 mil conexões operacionais, espalhadas por 853 cidades, ou seja, está presente com pelo menos um sistema fotovoltaico em 100% dos municípios da região. Atualmente, são mais de 635 mil consumidores de energia elétrica que já contam com redução na conta de luz, maior autonomia e confiabilidade elétrica trazidas por pequenos e médios sistemas solares.
A tecnologia fotovoltaica representa um enorme potencial de geração de emprego e renda, atração de investimentos privados e colaboração no combate às mudanças climáticas.
A fonte solar é uma alavanca para o desenvolvimento do País. Em especial, temos uma imensa oportunidade de uso da tecnologia em programas sociais, como casas populares do programa Minha Casa Minha Vida, na universalização do acesso à energia elétrica pelo programa Luz para Todos, bem como no seu uso em prédios públicos, como escolas, hospitais, postos de saúde, delegacias, bibliotecas, museus, parques, entre outros, ajudando a reduzir os gastos dos governos com energia elétrica para que tenham mais recursos para investir em saúde, educação, segurança pública e outras prioridades da sociedade brasileira.
Para enfrentar os desafios da demanda crescente e aproveitar as oportunidades da revolução solar que está acontecendo no mundo e no Brasil, é vital que a Cemig, como concessionária de serviços públicos essenciais à sociedade mineira, acelere seus planos de melhoria e investimentos em infraestrutura. O futuro do Estado depende disso, para que Minas Gerais possa colher todos os imensos benefícios sociais, econômicos e ambientais que a geração própria solar pode agregar à população local.