Solar 2.0: como sistemas de armazenamento trazem novo crescimento da fonte

26/06/24 | São Paulo

Artigo publicado no Fotovolt

Por: André Gellers – Country Manager da Nansen Solar | Rodrigo Sauaia – CEO da ABSOLAR | Ronaldo Koloszuk – Presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR

O crescimento exponencial que o setor solar fotovoltaico vivenciou no Brasil desde 2012 se deparou com importantes desafios em 2023. Mesmo sendo um ano de grandes conquistas para o mercado, com mais de 10 gigawatts (GW) de potência adicionada, o resultado foi aquém das projeções de diversas empresas e abaixo do potencial. Fatores regulatórios, dificuldade de acesso à rede elétrica e alegações arbitrárias de inversão de fluxo de potência na geração distribuída solar trouxeram grandes desafios para os empreendedores do setor.

Contudo, diversas evidências continuam mostrando que, cada vez mais, a possibilidade de gerar sua própria eletricidade, barata e sustentável, é estratégica para o futuro. As condições geopolíticas trazem uma incerteza sobre as cadeias de suprimentos, inclusive de combustíveis. Os eventos climáticos estão cada vez mais intensos. A qualidade da energia elétrica tem piorado significativamente, com frequentes interrupções de fornecimento, mesmo em grandes centros urbanos.

Nesse cenário, os sistemas de armazenamento associados à geração fotovoltaica representam o próximo passo na descarbonização do setor elétrico. Estes sistemas, além de estarem conectados à rede elétrica, são associados a bancos de baterias e atraem cada vez mais atenção, devido às vantagens que proporcionam aos consumidores e usuários, mesmo no atual sistema de compensação de energia elétrica, quando o excedente é injetado na rede, gerando créditos para abatimento futuro.

Embora o preço das baterias de íons de lítio tenha caído 82% em 10 anos, segundo dados da BloomberNEF, com importante aumento de eficiência e de capacidade, seus valores ainda são considerados elevados. Porém, uma análise das vantagens dos sistemas solares com baterias demonstra que os benefícios vão muito além da economia financeira imediata. Eles abrem novas e interessantes possibilidades, sendo uma firme tendência para a consolidação das energias renováveis.

A tecnologia de armazenamento de energia elétrica atua no ponto mais crítico para a inserção de fontes renováveis: a variabilidade. Atuando juntamente com sistemas de gerenciamento, as baterias oferecem maior disponibilidade, confiabilidade e flexibilidade, entregando eletricidade mesmo quando a radiação solar (na energia solar) ou o vento (na energia eólica) não estão disponíveis. Com isso, os sistemas de armazenamento garantem a disponibilidade de energia durante eventos de interrupção na rede elétrica, aumentando a segurança energética e a qualidade de vida dos usuários.

Sistemas solares associados a baterias amenizam inclusive os desafios de inversão de fluxo de potência nas redes, pela sua capacidade de armazenar excedentes durante o dia, para despacho em momentos mais propícios, facilitando o cumprimento de exigências de conexão das distribuidoras.

As baterias contribuem ainda para ampliar o acesso à energia elétrica em localidades remotas ou isoladas. Neste caso, sistemas solares “off-grid” (ou isolados) têm beneficiado as populações carentes, dentro de programas sociais estratégicos, como o Programa Luz Para Todos. Assim, possibilitam a descarbonização da Amazônia e do agronegócio.

Nos setores comercial e industrial, o armazenamento reduz ou evita a compra de energia elétrica no horário de ponta, quando a eletricidade pode atingir preços exorbitantes. Isso, pois o excedente de energia elétrica gerado nos horários de maior irradiação solar pode ser guardado e utilizado durante o horário de ponta, técnica conhecida como “peak shaving”.

Existem muitos outros benefícios do uso de sistemas de armazenamento de energia elétrica associados à geração solar ou renovável que se consolidarão como atividades viáveis e sustentáveis. Alguns exemplos incluem a arbitragem de preços de energia; a gestão da frota de veículos elétricos; a automação de processos fabris; a integração de inteligência artificial em atividades produtivas; entre outros.

É inegável que a energia solar fotovoltaica já atingiu uma participação e um papel de destaque na matriz elétrica brasileira. Nos próximos anos, ao ser associada a sistemas de armazenamento de energia elétrica, será possível acelerar o crescimento da fonte solar e elevar sua participação na matriz a patamares cada vez mais altos.