28/11/22 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Ecoa
A luz solar nunca esteve tão em alta no Brasil. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSolar) prevê que 2022 terá o maior crescimento no setor em uma década. Entre janeiro e junho, houve aumento de 30% de gigawatts instalados em relação ao segundo semestre de 2021.
O Brasil já passou de 20 gigawatts de potência instalada (somando a geração centralizada das usinas de grande porte com a geração distribuída, espalhada em telhados e terrenos). Mesmo assim, o país ainda está atrás de nações muito menores e menos solares, como Alemanha, Itália, Japão e Coreia do Sul. Até o Vietnã produz mais energia fotovoltaica que nosso país. Ou seja, há ainda muito chão – ou céu – pela frente. Segundo o “Atlas Brasileiro de Energia Solar”, criado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Nordeste é a região que recebe mais luz solar, seguida do Centro-Oeste e do Sudeste.
Apesar desse movimento ser majoritariamente estimulado pela economia na conta de luz, a energia solar traz as vantagens sustentáveis de ser uma fonte renovável de energia. Além disso, gera empregos. Segundo a ABSolar, são 607 mil novos cargos de trabalho e R$ 104 bilhões em investimentos.
A fim de amplificar esses negócios, a cooperativa de crédito Sicredi vem estimulando seus associados (pessoas físicas, empresas e produtores rurais) a buscarem o que chamam de “soluções responsáveis”. São linhas de crédito especiais para iniciativas que envolvam agroecologia, agricultura orgânica e energia solar, entre outros.
Para se ter uma ideia da representatividade dos projetos fotovoltaicos, o Sicredi concedeu, no ano passado, o crédito de R$ 3,3 bilhões em 52,5 mil operações que envolviam energia solar. Foi mais do que o dobro do valor emprestado para o mesmo fim em 2020.
O que é o Sicredi e como ela investe em energia solar?
A instituição financeira cooperativa surgiu em 1902 para atender agricultores do Rio Grande do Sul. Hoje, ela tem 6 milhões de associados e 2,4 mil agências em todo o país. São nelas que o Sicredi está investindo para seguir o caminho de muitos de seus sócios e abraçar fontes de energia mais limpas. O passo mais significativo foi a recente inauguração de uma usina solar em Mato Grosso. A estrutura alimenta 140 agências e escritórios da instituição no estado.
Com 18 mil painéis de energia solar, a usina foi instalada em Nova Xavantina, cidade de 21 mil habitantes, localizada a 653 km de Cuiabá. Segundo Nauder Alves, diretor de supervisão e operações da Central Sicredi Centro Norte, o município foi escolhido devido aos níveis de insolação na região, à proximidade com a subestação concessionária e ao tamanho de área verde que precisaria ser sacrificada para dar espaço aos 9 hectares de usina.
O projeto é fruto de uma parceria entre o Sicredi Centro Norte, que abrange oito estados do Norte e do Centro-Oeste, e o Sebrae de Mato Grosso. O Sebrae levantou estudos de projetos de geração de energia solar para associados do Sicredi, que por sua vez levantou recursos para financiar a empreitada. O Mato Grosso é o quarto estado em geração de energia solar distribuída. Entre os municípios, Cuiabá ocupa a terceira posição, segundo a ABSolar.
A usina tem potência para gerar 5 megawatts, o que deverá significar uma economia de até 95% nas contas de luz do Sicredi no estado, ou algo em torno de R$ 12 milhões. Segundo a instituição, a energia gerada pela usina de Nova Xavantina corresponde a mais de mil toneladas de carbono que deixarão de ser emitidas por ano.
“O Sicredi antecipou a neutralização das emissões projetadas para todo o ano de 2022. Ao todo, foram foram neutralizadas 45.396 toneladas de carbono, através do apoio a seis projetos de crédito de carbono”, diz Daniela Lepinsk Romio, gerente de sustentabilidade da Central Sicredi Centro Norte.
A construção da usina não é um fato isolado entre as ações da cooperativa. O Sicredi é signatário do Pacto Global, iniciativa da ONU para estimular empresas a adotarem boas práticas a partir de dez princípios divididos em direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. No ano passado, inclusive, todos os funcionários receberam capacitações focadas em agenda climática e sustentabilidade no agronegócio.
Para Romio, o setor financeiro tem um papel essencial na transição para uma economia de baixo carbono: “Estamos evoluindo em ações de redução de emissões e, uma delas, é a autogeração de energia solar, projeto existente em diversas regiões. A tendência é cada vez mais ampliar essas iniciativas em todo o Brasil, para que um maior número de cooperativas possa se beneficiar.