05/10/17 | São Paulo
Depois do vento, o sol. Ao longo dos próximos dez anos, a energia solar deverá ter forte incremento na matriz elétrica nacional, assim como a força dos ventos teve na última década, segundo projeções de empresas, governo e analistas. A partir de 2020, prevê-se a instalação de 1000 MWp (megawatts pico, potência usada para a fonte) por ano, sendo que em 2026 o país poderá deter 10 GWp de centrais solares e 3,5 GWp de geração distribuída solar, de acordo com estimativas do Plano Decenal 2026, ainda em fase de elaboração final.
O país, que hoje tem pouco mais de dez mil ligações de microgeração em residências e comércio, deverá ter mais de 800 mil daqui a uma década. O crescimento está no radar da SolarGrid, que venceu duas concorrências privadas recentemente. Em uma investirá R$ 1 milhão para erguer duas plantas solares em Januária (MG), que irão abastecer mais de 40 escolas de Minas Gerais a partir de janeiro.
A rede de ensino, que gasta mais de R$ 3 milhões por mês de luz, deve ter uma redução de 40% na conta. No primeiro semestre de 2018, a empresa deve concluir R$ 25 milhões em investimentos para construir três plantas solares no Norte de Minas Gerais para abastecer cerca de 90 farmácias de uma rede no Estado. “Há outras concorrências que começam a surgir, como a de agências bancárias, e esse movimento deve se acelerar”, afirma Diogo Zaverucha, sócio da empresa. Se nesse ano a movimentação do mercado corporativo ficar em 10 MWhp, em 2018 pode ser dez vezes mais.
Investimentos também estão sendo feitos por grandes grupos de olho na expansão da fonte. O maior deles é tocado pela Enel, que está construindo três parques solares no Nordeste. Em setembro de 2015, em Tacaratu, sertão de Pernambuco, o grupo italiano inaugurou o primeiro parque híbrido pioneiro no país, que combina turbinas eólicas de 80 MW com placas fotovoltaicas. O investimento total foi de cerca de R$ 660 milhões.
O projeto da Enel é um dos que foram contratados, em 2013, pelo governo pernambucano no primeiro leilão de energia solar promovido no Brasil. Já nos leilões de 2014 e 2015, promovidos pelo governo federal, a empresa arrematou os três maiores projetos solares em construção no país. Em junho, deu início à operação do parque solar Lapa (BA), com dois meses de antecipação em relação ao prazo fixado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O empreendimento, que soma 158 megawatts (MW) de potência, é o maior em operação no país. No leilão de energia de reserva de 2015, foram contratados os projetos Horizonte (103 MW) e Nova Olinda (292 MW), em fase final de construção. “Apoiamos a transferência de tecnologia de parceiros europeus com fabricantes nacionais para desenvolvermos alguns equipamentos que não existiam aqui, estimulando a cadeia de suprimento. Com o crescimento do mercado esses fabricantes poderão vir para cá”, diz Carlo Zorzoli, presidente da Enel.
Em maio, a CPFL Energia anunciou a criação de uma nova empresa, a Envo, voltada para geração distribuída solar para clientes residenciais e comércios de pequeno porte. Segundo a resolução 482 da Aneel, quando a quantidade de energia gerada por um microconsumidor em determinado mês for superior à energia consumida no período, ele ganha créditos que podem ser usados para diminuir a fatura dos meses seguintes. Nos grandes consumidores, a CPFL aluga os equipamentos em contratos de longo prazo.
A microgeração distribuída solar avança em meio à crise econômica. Cerca de 300 clientes de média e baixa tensão estão conectados à rede de distribuição da Light, sobretudo na Zona Sul do Rio de Janeiro e na Barra da Tijuca. Em Pernambuco, em dois anos, o número de clientes que gera parte da energia que consome subiu 450%.
A Companhia Energética de Pernambuco (Celpe) contabiliza 270 sistemas de geração ligados e 100 em andamento. Em 2015, o número não ultrapassava 47 em todo o território pernambucano.
Na Alemanha, a microgeração distribuída responde por mais de 15 GW de capacidade instalada, superior à hidrelétrica de Itaipu, com 12 GW, informa o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica, Rodrigo Sauaia.
A expansão da energia solar tem motivado outros elos da cadeia. A Huawei abriu recentemente área de produtos e soluções voltadas para energia fotovoltaica. O objetivo é contribuir para usinas 100% inteligentes, com painel de monitoramento que recebe informações de sensores embarcados nos inversores solares. Já a Usiminas está fabricando perfis e tubos galvanizados para aplicações fotovoltaicas. “Nosso produto nos posiciona mais à frente na cadeia de valor da siderurgia”, diz Ascanio Merrighi, diretor executivo da Soluções Usiminas.