Empresas apostam em negócios que mantêm a floresta em pé

26/02/24 | São Paulo

Reportagem publicada pelo Marcos Dantas

Desenvolver projetos inovadores e, ao mesmo tempo, colaborar para a preservação amazônica e melhorar as condições socioeconômicas da população local: essa é a aposta de empresas amapaenses que expuseram os próprios serviços ou produtos inovadores nos dias 24 e 25 de fevereiro, durante o evento do Startup20 , em Macapá (AP).

Ao olhar com atenção para os ribeirinhos e as comunidades isoladas da Amazônia, Kelliandro do Rego Goes percebeu as dificuldades enfrentadas por esses povos para ter acesso à energia elétrica. Por meio dessa percepção, aliada ao trabalho com fonte solar desde 2018, ele criou o Projeto Poraquê há 2 anos.

O objetivo é facilitar o acesso à eletricidade, com um sistema fotovoltaico portátil, sem a necessidade do serviço de instalação, por ser totalmente plug and play. Segundo o idealizador, o kit tem um custo de cerca de 20% menor que os equipamentos tradicionais, com um valor de comercialização avaliado em R$ 5.000.

Lançado no sábado (24.fev.2024), o produto inclui painéis solares e uma bateria. “Uma pessoa sozinha pode levar o sistema e usar para carregar o celular ou acessar o notebook. Combinado à internet, traz inclusão social: comunicação, entretenimento, educação e saúde, principalmente hoje com o avanço da telemedicina”, afirmou.

Outro exemplo de iniciativa sustentável com benefícios sociais é a cooperativa Amazonbai , fundada em 2017. Por meio do manejo comunitário, com certificação FSC , desenvolve a cadeia produtiva do açaí – considerado um produto estratégico pelo governo do Amapá . Em 3 anos, saiu dos 37 sócios fundadores para 141 cooperados.

“Com o apoio do Estado, através do investimento para expansão da nossa unidade industrial, vamos conseguir absorver mais de 2.000 produtores dentro do estuário do rio Amazonas, desde o (arquipélago) Bailique até a região da foz do rio Macacoari. Teremos um grande impacto na economia”, disse o presidente, Amarildo Picanço.

No ano passado, a cooperativa conseguiu se internacionalizar, exportando açaí liofilizado (polpa desidratada por secagem a frio) para os Estados Unidos. A expectativa é alcançar os mercados europeu e asiático em 2024. Com isso, o total comercializado deve chegar a 350 toneladas (ante 72, em 2023) e movimentar cerca de R$ 5 milhões.

Em entrevista ao Poder360 , o secretário Edivan Barros, da S ecretaria da Ciência e Tecnologia do Amapá , destacou a iniciativa como um exemplo de sucesso da economia verde e sustentável, que o Estado definiu como pilar para o desenvolvimento. A ideia é criar um polo no entorno da Amazonbai para aproveitar o fruto integralmente.

“O governo já destinou uma área para a empresa implantar a indústria e, em contínuo, quer levar startups de biofertilizantes, de óleos e de bebidas aromáticas para criar um enclave e reaproveitar os resíduos que serão produzidos pela Amazonbai, olhando para toda a cadeia produtiva ligada ao açaí, à bioeconomia”, disse.

As possibilidades também incluem um carvão com base no caroço do açaí. O produto foi feito pela 1ª vez em 2021, e hoje está disponível para venda em diversos supermercados amapaenses. Segundo o idealizador, Édson Marques, o processo de produção consiste em 3 etapas: carbonização, trituração e prensamento.

“São vários os nossos diferenciais: o nosso carvão não suja a mão e tem mais durabilidade, permitindo de 3 horas a 4 horas de queima. Além de quase não emitir fumaça. Estamos reaproveitando um produto que era descartado na rua e dando emprego para várias pessoas que trabalham na empresa” , declarou.

Já a AmazWood é uma empresa familiar com 40 anos de existência, fundada por José Mesquita, que produz móveis, minicasas e casas compactas, com 5 tipos de madeira da região: Amapá, Angelim pedra, Angelim de várzea, Andiroba e Roxinho. Atualmente, são 5 empresas parceiras trabalhando no beneficiamento.

“O Brasil é um grande exportador de matéria-prima, mas a gente quer trabalhar esse material e vender um produto finalizado, com valor agregado. Nós não concordamos em exportar matéria-prima. Além de ser mais barata, produz emprego fora, e a gente quer empregos e renda aqui”, afirmou José Mesquita.

Atualmente, a empresa participa de 2 processos de apoio e mentoria. O Inova Amazônia , do Sebrae , para ajudar no estágio de tração, e o Amazônia+ Global , da Softex Amazônia , uma promotora de políticas públicas para o ecossistema da tecnologia e inovação. Neste caso, o intuito é verificar a viabilidade de expansão e internacionalização.

A cidade de Macapá é a 2ª com mais startups (17,4%) da região Norte do Brasil. Só está atrás de Manaus (AM), de acordo com dados do dashboard do Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2023, da Abstartups (Associação Brasileira de Startups). O Estado do Amapá também é o mais preservado da Amazônia, segundo o painel TerraBrasilis.

O Startup20 é um grupo de engajamento do G20 , criado sob a presidência da Índia, em 2023, cujo objetivo é debater estratégias e conectar os ecossistemas mundiais de inovação, com base em 3 pilares principais: ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês), investimentos e políticas e regulações.

O 1º encontro do grupo foi no ano passado, no país criador. As próximas agendas têm como sede o Brasil –país que exerce a atual presidência do G20 . A 1ª cidade brasileira a receber o evento é Macapá (AP), de 23 a 26 de fevereiro. A realização é uma parceria do Governo do Estado do Amapá , com a Abstartups (Associação Brasileira de Startups) e o Sebrae do Amapá

O Startup20 também terá agendas no Rio de Janeiro e em São Paulo, nos próximos meses de abril e julho, respectivamente. Atualmente, o G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Africana e da União Europeia. Desde o início de dezembro, o Brasil exerce a presidência rotativa. O mandato termina no final de novembro.