20/10/20 | São Paulo
A solar fotovoltaica é a fonte que cresce mais rapidamente no Brasil e no mundo. Recentemente, esse desenvolvimento ganhou ritmo e surpreendeu até quem acompanha de perto o setor.
De acordo com o relatório Power Transition Trends 2020, da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), juntas, as fontes solar e eólica foram responsáveis por 67% da capacidade de geração de energia elétrica adicionada no mundo em 2019. A solar liderou em novas usinas geradoras, com 45% do total. Em resumo, quase a metade de toda potência adicionada em 2019 no mundo veio desta tecnologia. Ainda segundo dados do novo estudo da BNEF, em 2010, a fonte solar tinha 43,7 GW de capacidade instalada mundial. Em apenas dez anos, esse número saltou para 651 GW, conforme registrado no final de 2019.
Esse crescimento acelerado está fundamentado em dois pilares: econômico e sustentável. No primeiro, a energia solar se justifica por ser hoje uma das fontes mais competitivas e atrativas. Quanto à sustentabilidade, estamos falando de uma energia limpa, abundante e renovável.
Outro fator importante está na evolução dos preços dos equipamentos fotovoltaicos: despencaram mais de 85% nos últimos dez anos, segundo levantamento da BNEF. Por outro lado, no mesmo período, o custo da energia elétrica fornecida pelas distribuidoras teve sucessíveis aumentos, acima da inflação média. Atualmente, o Brasil é conhecido por ter uma das tarifas de energia elétrica mais elevadas do mundo. Levantamento feito pelo Sebrae Nacional aponta que a conta de energia é a segunda maior despesa operacional dos pequenos negócios brasileiros. Portanto, é fácil concluir que os brasileiros encontraram na fonte solar um alívio para os seus orçamentos e os seus bolsos.
No campo da sustentabilidade, podemos destacar inúmeros benefícios da fonte solar, dentre os quais: não emite gases de efeito estufa; não gera resíduos ou ruídos; e ainda não precisa de água para operar, aliviando a pressão sobre os recursos hídricos escassos. Além disso, um módulo fotovoltaico é quase tão reciclável quanto uma latinha de alumínio, podendo ser até 96% reciclado, segundo a entidade PV Cycle, que acompanha a reciclagem do setor solar. Adicionalmente, em menos de 1,5 ano de operação, um módulo fotovoltaico gera a energia elétrica necessária para a sua fabricação. Durante sua vida útil, gera em média 17 vezes mais energia do que foi consumido em sua produção.
Devemos lembrar que temos metas a serem cumpridas até 2030, para atender aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A energia limpa, como a fotovoltaica, é um dos objetivos, e também um dos temas estratégicos que a própria Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem trabalhado em conjunto com os organismos internacionais de normalização.
No mundo, não faltam exemplos de como a fonte solar fotovoltaica está contribuindo para acelerar a transição energética. O Chile anunciou que irá descarbonizar 100% da sua matriz elétrica até 2040. Por sua vez, Israel tem a meta de instalar 15 GW de energia solar até 2030 e, assim, tornar a sua matriz elétrica 80% renovável. Já a Espanha aprovou um decreto que pretende atingir 100% de energias renováveis até 2050. A União Europeia vai disponibilizar 560 bilhões de euros aos Estados-Membros, além de apoiar leilões e projetos de energia solar na região.
Aqui no Brasil, a energia solar está apenas começando, mas inicia com o pé direito, impulsionada pela vontade do brasileiro em investir na fonte. Uma pesquisa divulgada em 2020 pelo Ibope Inteligência e encomendada pela Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) ouviu pessoas de todas as regiões do País e revelou que 9 em cada 10 brasileiros querem gerar a sua própria energia limpa e barata. Isso significa que 90% dos brasileiros se interessam pelas renováveis, número que em 2014 era de 77%.
Nos últimos sete anos, a geração distribuída solar teve um crescimento médio de 231% ao ano no Brasil. Esse desenvolvimento trouxe benefícios para quem tem e para quem não tem solar em casa. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a geração distribuída solar fotovoltaica já contribuiu com mais de R$ 4,7 bilhões de reais, reinjetados na economia local desde 2012. Isso acontece pela liberação de renda – dinheiro economizado na conta de luz de quem possui sistema solar e usado por este consumidor na compra de outros produtos, na sua região.
Desde 2012, a fonte solar gerou mais de 190 mil empregos acumulados no Brasil, adicionando uma potência de mais de 6,4 GW, somando geração distribuída e centralizada (usinas de maior porte). Os números, mapeados pela ABSOLAR, são expressivos, mas ainda é muito pouco perto do que a fonte pode contribuir. Para se ter uma ideia, do total de 84,4 milhões de unidades consumidoras do Brasil, a energia solar distribuída abastece pouco mais de 350 mil unidades, ou seja, respondemos por uma fração irrisória do todo.
No âmbito dos tributos, constatou-se que os estados que mais incentivaram a energia solar, mais arrecadaram. Isso aconteceu em Minas Gerais, por exemplo, mesmo depois de ampliar a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para todas as modalidades de geração distribuída fotovoltaica. Desde 2012, o setor já investiu mais de R$ 3,2 bilhões no estado mineiro, trazendo uma arrecadação estimada em R$ 713,4 milhões aos cofres públicos.
Minas ocupa a primeira posição no ranking estadual da geração distribuída no País, com 700 MW de potência instalada operacional. O estado é responsável sozinho por 19,3% de todo o parque brasileiro de energia solar distribuída. Não é para menos: é a região que mais incentiva sistemas solares de pequeno e médio porte, de até 5 MW. Este é um exemplo concreto de como o poder público pode contribuir com a geração de emprego e renda, ao mesmo tempo em que abraça a causa da sustentabilidade e ainda aumenta a arrecadação de impostos.
Por essas e muitas outras razões, projeta-se que em menos de vinte anos a fonte solar fotovoltaica será a número um do Brasil em potência instalada, ultrapassando até mesmo a fonte hídrica.
Que venha o sol, iluminando os horizontes do Brasil!
*Ronaldo Koloszuk, presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR)