24/10/22 | São Paulo
Reportagem publicada pela Exame
A fonte solar deve ultrapassar a eólica ainda neste ano na matriz elétrica brasileira. E mais: projetos em telhados de casas e comércios já geram mais que Itaipu
A matriz elétrica brasileira é 200 gigawatts (GW) de capacidade instalada. As hidrelétricas são responsáveis pela maior parte dessa produção, e somam um volume em torno de 110 GW. Na sequência, a fonte eólica está em segundo lugar, totalizando 22,3 GW. Enquanto a energia solar fotovoltaica, a terceira colocada, conta com mais de 20,2 GW de capacidade instalada. Até o final do ano,
Há uma grande possibilidade de que a matriz solar fotovoltaica ultrapasse a fonte eólica até o final do ano, segundo especialistas da associação.
De acordo com boletim de julho do Ministério de Minas e Energia (MME), as fontes renováveis deverão aumentar sua participação na matriz, e a capacidade instalada de geração distribuída solar cresceu e continua em destaque, com tendência de aumento de mais de 80% em 2022, em relação a 2021. A participação da fonte solar fotovoltaica na oferta interna de energia elétrica do Brasil deve aumentar de 2,5% para 4,1% em 2022, indica o boletim de energia, publicado em 10 de outubro.
O Brasil se beneficia desse processo de transição energética por ser um país com uma grande quantidade de radiação solar, o que facilita o uso da matriz solar. Dentre os motivos que justificam o crescimento da fonte, estão: a melhoria tecnológica, a evolução do mercado energético no Brasil e a competitividade da matriz solar. Além disso, cada vez mais, os países buscam fontes renováveis para utilização energética, e a fonte solar se mostra como uma alternativa, pois não emite carbono (CO2) e tem baixos impactos ambientais.
“Além da forte ampliação que vem se estruturando para oferecer uma solução eficiente e um ambiente bastante competitivo no mercado, que vem contribuindo para que a energia solar seja competitiva para o consumidor final, nós tivemos a ampliação tanto das usinas solares e, mais recentemente, uma forte aceleração do mercado”, afirma Márcio Takata, conselheiro da Absolar.
A geração distribuída corresponde ao modelo da energia solar onde são utilizadas placas solares sobre os telhados das casas, dos edifícios comerciais e industriais. Este formato distribuído corresponde a microusinas que geram energia para o autoconsumo. Segundo Takata, a geração distribuída contribuiu fortemente para a ampliação da fonte solar especialmente nesses últimos quatro anos.
Por esse motivo, a energia solar é uma tecnologia que está permitindo, não só grandes empresas, mas também consumidores de todos os portes, inclusive o residencial, terem protagonismo na contribuição e criação de uma matriz mais sustentável e econômica. A energia distribuída, combinada com a energia solar tem permitido que as pessoas físicas e o pequeno consumidor possam contribuir com a matriz elétrica, reduzindo despesas com uma fonte mais competitiva, segundo o conselheiro.
“O Brasil é um país que tem um potencial de crescimento muito grande e a energia será um insumo fundamental para apoiar esse crescimento, esse desenvolvimento econômico que o Brasil tanto precisa. Então, a ampliação da disponibilidade de energia, sobretudo através de fontes renováveis, têm um papel crucial e ter esse crescimento por fontes renováveis, como a solar, é estratégico para o desenvolvimento do país”, comenta Takata.
A geração distribuída com energia solar, inclusive, ultrapassou a marca de 14 GW de potência instalada em residências, comércios, produtores rurais e prédios públicos. Essa capacidade já é maior do que a da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do país.
Atualmente, o Brasil tem mais de 1,3 milhão de sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede, trazendo economia e sustentabilidade ambiental para mais de 1,7 milhão de unidades consumidoras. Desde 2012, foram mais de R$ 76,7 bilhões em novos investimentos, que geraram mais de 420 mil empregos acumulados no período.
Algumas das matrizes energéticas encaram uma crise, que pode ser conhecida como inflação energética Entre os fatores que evidenciam essa crise está o aumento constante nas faturas de energia elétrica e a crise hídrica vivida pela diminuição da quantidade de chuvas. Um documento produzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta que a previsão de aumento nas tarifas na energia elétrica é de 21,04% para 2022. Todos esses fatores impulsionam a energia solar fotovoltaica como uma fonte energética atrativa.
“Traz efetivamente um custo de energia mais baixo para o consumidor, mais competitivo para o consumidor, em termos de valor monetário. E contribui para uma diversificação da matriz energética no Brasil. Talvez o consumidor não perceba tanto a relevância disso. Mas, embora sejam muito positivas por serem fontes renováveis, é bom reduzir a grande concentração e dependência de fontes hidrelétricas. Ampliar a relevância de diferentes pontos de energia é um elemento muito importante para a segurança energética do país”, conclui Takata.