22/03/22 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Portal Prudentino
A Companhia Energética de São Paulo (Cesp) colocou em atividade a primeira usina termossolar no Brasil. A planta piloto em operação é capaz de demonstrar que a tecnologia termossolar (ou heliotérmica) é tecnicamente aplicável no contexto nacional e traz a vantagem de uma produção de energia elétrica controlável e menos susceptível aos impactos da intermitência da luz solar.
A unidade está integrada ao Complexo de Energias Alternativas Renováveis da UHE Porto Primavera, em Rosana (SP), e coloca a região do Oeste Paulista na vanguarda de pesquisas e estudos sobre novas tecnologias para a geração de energia verde.
O projeto pioneiro foi desenvolvido pela companhia no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor de Energia Elétrica, regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Os produtos do projeto foram entregues à agência reguladora e estarão disponíveis aos interessados em investir ou continuar pesquisando sobre essa nova tecnologia no país.
Em desenvolvimento desde janeiro de 2017, o projeto recebeu R$ 57 milhões em investimento regulado pela agência para a construção e integração de uma planta piloto de geração de energia termossolar ao Complexo de Energias Alternativas Renováveis da UHE Porto Primavera, que conta também com outras plantas experimentais de tecnologia solar fotovoltaica e sistemas de armazenamento de energia, além da própria usina hidrelétrica.
A planta piloto possui capacidade de 0,5 MW, o equivalente para atender a 360 residências de consumo médio em torno de 180 kWh/mês. Conhecida também como CSP (concentrating solar power), o tipo de tecnologia escolhido para a usina recém-inaugurada tem um processo semelhante ao das termelétricas, porém utiliza o calor do sol como fonte, em vez de combustíveis fósseis e poluentes.
A Cesp construiu a planta com as chamadas calhas parabólicas, formadas por painéis compostos por espelhos côncavos que seguem a posição do sol. O calor capturado aquece um fluido de transferência que circula por tubos posicionados na linha de foco dessas calhas, produzindo vapor que movimenta turbinas para, enfim, gerar eletricidade.
Vantagens e incentivos
A principal vantagem da tecnologia heliotérmica em relação às outras fontes renováveis intermitentes é a possibilidade de armazenamento de calor e utilização em momentos de maior interesse para o sistema elétrico. O fluido aquecido pode continuar fornecendo energia térmica para as turbinas mesmo após o pôr do sol.
“Em unidades de grande porte, essa geração se estende por até 18 horas, conferindo à usina capacidade de gerar energia mesmo sem a presença da fonte e proporcionando maior controle sobre os processos”, afirma Luis Paschoalotto, gerente de Engenharia de Operação e Manutenção.
Outra particularidade da tecnologia utilizada é que os painéis são constituídos de espelhos de alumínio com filme refletivo, material com maior vida útil do que o vidro (que é utilizado na maioria das plantas comerciais).
“A fonte termossolar tem potencial importante para geração de energia elétrica no Brasil pois agrega uma fonte renovável a atributos importantes para a gestão do Sistema Interligado Nacional como a capacidade de controle da produção e a inércia associada às máquinas rotativas. O calor produzido também pode ser aproveitado em outros processos industriais, como em processos de cogeração, e a produção de energia também pode ser associada à produção de energia elétrica a partir de outro tipo de fonte, no modelo híbrido”, declara Paschoalotto.
“Para que a tecnologia termossolar ganhe escala e competitividade na matriz elétrica brasileira ainda se fazem necessários incentivos por conta de sua necessidade de investimento para implantação, operação e manutenção ainda ser significativamente superior às fontes eólica e solar fotovoltaica”, destaca.
Hidrogênio verde
O Complexo de Energias Alternativas Renováveis da UHE Porto Primavera abriga também um projeto de P&D Aneel que pesquisou o armazenamento de energia através do hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro.
A geração do hidrogênio ocorre pela eletrólise da água, ou seja, quando uma corrente elétrica passa pela molécula da água e a divide em oxigênio e hidrogênio, consumindo energia elétrica e produzindo o hidrogênio, que é armazenado, sem nenhum resíduo poluente.
Outras iniciativas no local são as plantas de energia fotovoltaica de diferentes tecnologias que somam pouco mais de 1 MW e uma estação solarimétrica que mensura, principalmente, parâmetros de radiação solar e dados meteorológicos.