18/09/23 | São Paulo
Reportagem publicada na Mega What
O grande potencial brasileiro para transformar a geração elétrica renovável em fonte de hidrogênio ou amônia verde pode contar com incentivos que não necessariamente venham de dinheiro novo, e sim com um rearranjo de subsídios que já existem. Esta é a análise do CEO da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia e do diretor de Inovação, Produtos e Regulatório Omega Energia, Bernardo Bezerra.
Para o CEO da Voltalia Brasil, Robert Klein, mesmo sem subsídios o país pode ter o hidrogênio mais competitivo do mundo, desde que haja um arcabouço regulatório atrativo. Os executivos participaram de webinar promovido pela EPBR na manhã desta segunda-feira, 18 de setembro.
Refutando constantes críticas do setor de que a fonte solar fotovoltaica ainda se beneficia de subsídios que não seriam mais necessários, Sauaia avalia que é possível reorientar incentivos atualmente aplicados em energia fóssil para fontes renováveis. Ele mencionou estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que apontou que em 2021 houve R$ 118 bilhões em subsídios a combustíveis fósseis.
“Quando falamos em subsídios, o Brasil ainda não virou a chave. O discurso da transição energética já mudou, mas a máquina pública – leis, incentivos – ainda privilegiam as fontes fósseis. É importante que o governo olhe para esse espaço fiscal que já existe. Se reordenarmos esse espaço fiscal, temos condições de acelerar nossa transição energética”, analisa o presidente da Absolar.
Bernardo Bezerra, da Omega Energia, também avalia que subsídios à nova fonte são importantes, e que é possível dar incentivos sem criar novas despesas. “Quando olhamos na margem, o hidrogênio brasileiro é o mais competitivo, mas outros países estão trabalhando com subsídios. O Brasil consegue aplicar uma lógica de incentivos que não onere o consumidor final e para nos colocar em uma posição privilegiada em relação aos demais países”, disse.
Ele avalia que algumas formas para desonerar o setor podem ser a revisão da contratação de Angra 3, cujo custo de energia estaria na casa dos R$ 800 MWh , “quatro vezes maior que o de uma solar ou eólica”; a revisão da decisão de contratar 8 GW de térmicas e 2 GW de pequenas centrais hidrelétricas (PCH), incluída no bojo da privatização da Eletrobras; e a não-prorrogação de políticas como o desconto no fio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
“A CDE contribui não apenas com o custo ao consumidor, como também para a sobreoferta de energia”, disse Bezerra. Para ele, apesar da alta competitividade da fonte solar, a baixa demanda por energia e a expansão da oferta lastreada não na demanda real, mas em subsídios, são entraves para o crescimento sustentável do setor.
Para Robert Klein, CEO da Voltalia Brasil, diante da demanda crescente por hidrogênio verde, os países com capacidade competitiva de geração renovável estão se posicionando “de forma agressiva” e o Brasil deve seguir o exemplo.
“Se não nos mexermos rapidamente, vamos ficar para trás apesar de ter as melhores condições comparando com qualquer país”, disse o executivo, que considera que o Brasil tem condições para superar inclusive o incentivo de até US$ 3 por quilo de hidrogênio verde anunciado pelos Estados Unidos.
Klein, que também faz parte do conselho da Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIV), vê uma grande oportunidade de trazer grandes indústrias ao país a partir da energia renovável competitiva.
“Seria um absurdo exportar amônia, para que ela sirva para fabricação de fertilizantes e eles retornem ao Brasil para a agricultura. Aproveitando a energia elétrica barata, a amônia barata, por que não imaginar que essas usinas se instalem no Brasil?”, provocou o executivo. Para isso, ele avalia que as legislações ambientais, trabalhistas e o arcabouço fiscal devem ser atraentes além do custo da energia verde.