Governo deve fazer primeiro leilão de solar até outubro

28/05/15 | São Paulo

Valor Econômico
 
Mercado. Segundo a EPE, competição se dará entre empresas interessadas exclusivamente no segmento
 
Até outubro será lançado o primeiro leilão específico para contratação de energia gerada a partir do sol, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Pela primeira vez a competição se dará entre empresas interessadas exclusivamente no segmento, o que contribuirá para viabilizar o desenvolvimento desse mercado.
 
O Brasil é reconhecido pelo elevado nível de radiação e pela pequena variação solar ao longo do ano. Tolmasquim enumera outras duas vantagens: presença de grandes  reservas  de quartzo e de um parque industrial de processamento de silício até o grau metalúrgico, o primeiro degrau para a produção da matéria-prima utilizada na fabricação das células fotovoltaicas.
 
Mas existem pelo menos duas desvantagens. Trata-se de uma fonte intermitente e relativamente cara. Mesmo assim, a perspectiva é interessante, segundo os especialistas. O preço do sistema completo para a geração de energia solar já caiu à metade no mercado mundial e deve continuar em queda. As quantidades contratadas no leilão promovido pela Agência Nacional de Energia (Aneel) dependerão dos projetos apresentados e o preço final só será conhecido depois da apresentação das propostas.
 
No final do ano passado, Pernambuco realizou o primeiro leilão estadual para impulsionar o projeto local de desenvolvimento de uma cadeia completa de valor para a energia solar, inspirado no modelo de produção de energia eólica. Segundo o secretário de energia de Pernambuco, Eduardo Azevedo, estudos mostraram que a realização de um único leilão para 180 MW despertaria o interesse do setor privado e caberia no bolso do Estado, que subsidia o consumo com créditos de ICMS.
 
O mercado se interessou e os desenvolvedores de projeto na  área,  de  distintas nacionalidades, contrataram pouco mais de 122 MW. O preço médio da energia foi negociado a R$ 228,63 MW/h. As empresas devem implantar esses empreendimentos em 18 meses e vender a energia por 20 anos. Após o  credenciamento  dos  comercializadores,  espera-se fechar o contrato com os consumidores.
 
A utilização de módulos possibilita a instalação do parque em conjuntos de 5 MW ou de 10 MW de forma gradual. Uma das participantes do leilão de Pernambuco, a desenvolvedora de projetos italiana ENEL Greenpower, apresenta condições favoráveis para a formação de um parque híbrido, instalando os painéis fotovoltaicos no mesmo espaço onde atualmente produz energia eólica. Outra vantagem dessa operação casada está na economia com os custos de transmissão porque se compartilha a parte estrutural da planta. Vento e sol é  condição presente na região Norte e no Sul do país, regiões que possibilitam esse tipo de operação. Isoladamente, a energia solar pode ser aproveitada em quase todo o país.
 
"A iniciativa de Pernambuco de realizar um leilão exclusivo é muito boa, ajuda realmente a expandir o mercado e a reduzir a vulnerabilidade do sistema brasileiro frente à estiagem,

 
 
ameaça cada vez mais frequente", diz Barbara Rubim, coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace. O preço ainda é elevado, considerando que a energia eólica custa menos da metade. Mas a especialista recomenda adicionar à conta outros fatores. Como a energia solar não substituirá a hidrelétrica ou a eólica no sistema, qualquer comparação deveria ser feita em relação à térmica. Quando acionada emergencialmente além do previsto e incluído o preço do combustível, a térmica apresenta valores muito superiores a solar.
 
Como dispensa insumos, a aposta é que, com o desenvolvimento do mercado, o preço da energia solar caia bastante, repetindo o que ocorreu com a eólica.
 
Diversificar a matriz energética requer arranjos técnicos e comerciais para a inserção da energia solar. Considera-se que existem três modelos de negócios. O  primeiro  reúne  as plantas solares que participam em leilões no mercado regulado de energia. O segundo disponibiliza a alternativa de participar no mercado livre. O último engloba a energia fotovoltaica residencial de baixa tensão com a venda do excedente produzido para as distribuidoras.
 
Reginaldo Medeiros, presidente da Associação Brasileira  dos Comercializadores de Energia (Abraceel) relata que hoje existem dificuldades para a energia solar competir. As preferências do BNDES estão voltadas para o financiamento do mercado regulado. Ele defende que o banco ofereça linhas de financiamento também para as empresas interessadas em atuar no mercado livre. "A perspectiva é boa, mas o desenvolvimento desse mercado depende muito da redução do custo", reforça.
 
Rodrigo Sauaia, diretor-executivo da recém formada Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) acrescenta que o acesso ao financiamento do BNDES está condicionado ao conteúdo nacional da indústria, uma dificuldade adicional para a formação de um parque nacional que inexiste. A Absolar estima que capacidade instalada atual oscile entre 30 e 40 MW. Apenas 10 MW dessa capacidade são injetados na rede.