08/03/24 | São Paulo
Dia Internacional da Mulher é celebrado nesta quinta-feira (8) em todo mundo
Por: Henrique Hein e Ericka Araújo
Reportagem publicada pelo Canal Solar
Nesta sexta-feira (8), o mundo comemora a chegada do Dia Internacional da Mulher, uma data oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas) na década de 1970 e que simboliza a luta das mulheres por mais igualdade e respeito.
No mercado de trabalho, cada vez mais a figura feminina vem ganhando espaço e se destacando em áreas que historicamente sempre foram majoritariamente ocupadas por homens, como no setor de energia, cuja solar é a fonte renovável que mais emprega mulheres em todo planeta.
Para celebrar a data, o Canal Solar traz algumas histórias de mulheres que atuam em diferentes segmentos do setor fotovoltaico, desde a instalação de equipamentos até a área jurídica.
Engenheira eletricista, especialista em gestão de ativos e produtos, Laís Tamada superou as dificuldades da vida – como o surgimento de uma doença rara em 2019 – para se tornar uma profissional de destaque entre os integradores brasileiros.
Formada pela pela UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), começou a se interessar pelo setor fotovoltaico quando se deparou com as primeiras informações da Resolução 482/2012 ainda na faculdade.
“Comecei a pesquisar sobre energia solar e a me encantar com a possibilidade de gerar energia através de painéis instalados nos telhados das casas. Isso era fascinante para mim”, comenta ela.
A tecnologia acabou se tornando tema de seu TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) sobre a implantação de um piranômetro termoelétrico na universidade para análise do potencial de energia solar no Paraná.
“Resumidamente, este equipamento mede a irradiância (W/m²) do local onde está instalado. Com a finalização deste TCC, foi possível concluir que a irradiância na cidade de Curitiba (PR) – a cidade nublada como muitos conhecem – é tão excepcional quanto a irradiância média da Alemanha”.
O TCC foi sucesso e passou a ser citado em teses de diversos mestrado da universidade. Contudo, mesmo concluindo a faculdade, Laís só foi atuar no setor de energia solar em 2019, quatro anos após se formar.
Antes disso, passou pelo setor comercial vendendo materiais elétricos, disjuntores, cabos, inversores de frequência e afins.
Foi quando ela iniciou um novo trabalho como supervisora comercial em uma integradora de energia solar e aprendeu a dimensionar sistemas fotovoltaicos e a simular a geração do sistema em softwares próprios.
Em 2020, Lais sentiu que precisava seguir crescendo no setor solar e que precisava de maiores desafios, como a possibilidade de emitir suas próprias ARTs junto ao Crea-PR.
“Depois disso, subi muito em telhados para verificar se os módulos fotovoltaicos estavam sendo fixados corretamente nos trilhos e bem presos com os terminais finais e intermediários”, comentou.
“Trabalhei sob muito sol e, na parte interna da UC, a equipe continuava as conexões instalando os inversores, string box e crimpando cabos sob minha supervisão. Comigo, realmente, não tinha tempo ruim e nem descanso”, complementou.
Depois de muitas obras, Lais decidiu dar mais um upgrade na carreira trabalhando no setor industrial prestando serviços para analista de pré-vendas numa fábrica nacional de inversores híbridos.
“O sucesso foi tão grande que, em um ano, dobramos o faturamento da unidade de energia solar”, comentou ela.
Em 2022, Laís aceitou um convite para trabalhar no setor de produtos e passou a falar diretamente com os fornecedores dos itens que compõem o kit gerador: estruturas de fixação, cabos, módulos fotovoltaicos e a analisar tecnicamente cada concorrente do inversor híbrido.
Enquanto mulher, Laís conta que nunca se deixou levar pelas dificuldades da vida, sendo a principal delas a descoberta da esclerose múltipla no auge de sua carreira e que a deixou com mobilidade reduzida.
“Nunca desisti de conseguir atuar no setor solar e é isto que faço hoje. Pretendo fazer mais, falar mais e atingir o maior número de clientes possíveis. O setor solar é a minha vida e atuarei neste segmento até o final dela”, garantiu.
Arquiteta de formação e doutora em engenharia civil, com quase duas décadas de trabalhos dedicados à área de pesquisas no Laboratório de Sistemas Solares da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Clarissa Zomer é hoje uma das principais referências do mercado brasileiro quando o assunto envolve a integração de sistemas de energia solar com a arquitetura, também conhecida como BIPV (Building Integrated Photovoltaics).
Fundadora do Arquitetando Energia Solar, ela atua levando conhecimento técnico para profissionais do setor solar de todo o país e projetando sistemas juntamente com outros arquitetos e integradores.
“Mesmo antes da Resolução 482/2012, eu já estava imersa nesse campo de estudo. Inicialmente, meu caminho parecia direcionado à carreira acadêmica. Conclui iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado, inclusive um período em Cingapura”, conta ela.
Contudo, a partir de 2017, Clarissa começou a lecionar cursos de pós-graduação e em 2018 e 2019 se tornou professora substituta no Departamento de Expressão Gráfica da UFSC.
“Essa experiência foi enriquecedora e me senti realizada na sala de aula. Decidi, então, estudar para ingressar como professora efetiva na UFSC”, revelou ela.
Porém, em 2020, a pandemia trouxe incertezas e mudanças de planos na vida da profissional. Os concursos foram suspensos e as perspectivas de novas vagas tornaram-se escassas.
“Foi nesse momento de especulação e dúvidas que um sonho, antes tímido, começou a ganhar força dentro de mim: compartilhar meu conhecimento sobre sistemas BIPV diretamente com os profissionais do mercado, especialmente arquitetos e integradores de energia solar”, revelou.
Assim nasceu a Arquitetando Energia Solar, inicialmente como um perfil de Instagram e, agora, a empresa que Clarissa administra.
“Hoje, me sinto realizada, pois uni minhas duas paixões: lecionar, através de cursos e palestras sobre Arquitetura Solar, e projetar BIPVs juntamente com outros arquitetos e integradores de energia solar”, revelou.
Graduada em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, e em Engenharia Ambiental, Mayara Barreto também também se qualificou em Direito Penal e Processual Penal.
Sua carreira foi desenvolvida em empresas das áreas jurídicas e energia renovável, principalmente do segmento solar, criando estratégias de comunicação e marketing para melhorar o posicionamento diante dos setores de atuação.
“Sempre quis trabalhar em setor ligado ao meio ambiente, e à época eu não encontrei nenhuma oportunidade e também não enxergava a possibilidade de atuar no setor como jornalista”, relata.
Segundo ela, a saída foi iniciar uma transição de carreira e de área de atuação.
“Comecei a fazer uma segunda faculdade (engenharia ambiental), após o primeiro ano da faculdade, comecei a buscar vagas de estágio no setor e em 2016 entrei no setor como estagiária em engenharia, o que não durou muito e voltei a atuar com comunicação para implementar a área de MKT da empresa que entrei (Greener, que na época era Enova Solar)”, conta.
Mayara pontua que ser mulher em um setor majoritariamente masculino não é fácil, e sendo uma mulher preta, infelizmente, tem uma problemática adicional.
“No geral, as mulheres já passam por situações absurdas, eu já vivi inúmeras situações de preconceito e racismo, ouvi coisas do tipo: “quem é essa pretinha?”, “quem ela pensa que é?”, ”Você não tem capacidade”, “Não te cabe aqui”, entre tantas outras coisas”, comenta.
Porém, estes obstáculos não a impediram de se manter no setor e crescer na carreira.
“Os desafios continuarão existindo, então eu os pego, coloco no bolso e sigo minha trajetória. E, estou nesse caminho há 8 anos. Não é fácil e, como mentora de jovens mulheres que estão entrando agora no setor de energia solar, eu sempre digo a elas: não dê ouvidos ao que falam sobre você, siga em frente e seja firme na sua caminhada. E, sim, precisamos nós, mulheres, nos unir e apoiar umas as outras para que alguma mudança aconteça”, completa.
Em 2022, Mayara virou líder de realidade climática do Climate Reality Project, movimento criado pelo ex vice-presidente dos EUA, Al Gore. A profissional também faz parte do Grupo Mulheres do Brasil, integrando os grupos de Diversidade e Sustentabilidade. Além disso, é mentora no projeto Interligadas da GIZ, que visa apoiar o ingresso de mulheres no setor de energia renovável.
Atualmente, atua como diretora executiva da eContent Sustentabilidade, empresa de consultoria em sustentabilidade/ESG e marketing regenerativo para o setor de energia.
Advogada com mais de uma década de atuação no setor de energia solar, Marina Meyer Falcão conta com uma vasta experiência e participação em processos jurídicos e regulatórios da fonte no Brasil, com diversos prêmios recebidos por suas contribuições.
Um deles envolveu a conclusão do programa Luz para Todos em Minas Gerais, que levou energia limpa para mais de 300 municípios do Estado.
“Concluímos com grande êxito a entrega de energia mesmo para muitas cidadezinhas do interior. Foi um grande projeto e que eu ganhei até um prêmio na época”, disse ela.
Após isso, ganhou notoriedade no mercado por trabalhar em diversos institutos e associações, acumulando hoje cargos em importantes entidades e empresas do setor elétrico e de advocacia.
Atualmente, atua como diretora jurídica e secretária regulatória também do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa), em parceria com um grupo de trabalho da Aliança Solar, formado pelo MSL (Movimento Solar Livre) e o INEL.
Em Minas Gerais, Marina é a presidente da Comissão de Direito de Energia da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). “Atualmente também sou professora na PUC-Minas, no curso de pós-graduação em energia e geração distribuída. Já tem cinco anos que eu sou professora lá”, comenta.
Além disso, Marina também é atualmente diretora jurídica da EGS (Energy Global Solution), uma empresa de consultoria voltada para soluções em energia para grandes empresas.
“Dentro do hall de clientes, já prestamos serviço para Itaipu, Cibiogás, Engie, Casa dos Ventos, Origo, as grandes fazendas solares que começaram em Minas, a Helexia e Voltalia”, comentou.
Colunista do Canal Solar, Marina também é conselheira da Câmara de Energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, além de membro do grupo de mulheres “Sim, Elas Existem”, uma frente de iniciativas que busca a promoção da igualdade de gênero entre homens e mulheres no setor de energia.
Thais Zampieri Bitencourt, gerente de marketing latam da DAH Solar, é mais uma das mulheres citadas nesta reportagem que começaram a se interessar e trabalhar no setor de energia solar muito antes da fonte adquirir a popularidade que possui hoje.
A profissional iniciou sua carreira no setor de energia solar como analista da Fronius, uma das principais fabricantes de inversores do mundo, mas que na época ainda estava começando a implantar uma unidade para negócios em energia solar no Brasil.
Por causa disso, Thaís conta que teve o privilégio de ver de perto não só a evolução da empresa em que trabalhava como do setor de energia solar como um todo no Brasil.
“É engraçado, porque quando eu comecei não tínhamos muitos concorrentes. Não havia muitas empresas como se tem hoje em dia (…) Eu consegui acompanhar todo o crescimento do setor, desde os primeiros inversores menores, centrais, passando pelas strings boxes e muito mais”, conta ela.
Na fabricante de inversores alemã, Thais permaneceu ao longo de 11 anos, onde seus esforços e dedicação a fizeram ocupar cargos importantes dentro da companhia, desde coordenadora até a gerência de uma das unidades da empresa.
A profissional deixou a Fronius após a empresa optar por mudar sua estratégia e seu posicionamento no mercado brasileiro, eliminando com isso justamente o cargo em que ela ocupava.
Foi desempregada, contudo, que ela percebeu o quanto seu nome já estava sendo reconhecido pelo mercado. “Eu percebi que diversas pessoas do mercado já me conheciam. Foi quando a DAH Solar entrou em contato comigo para eu começar”, disse ela.
Na nova casa, Thais é responsável pela tomada de todas as decisões relacionadas ao marketing da empresa no Brasil, sendo também responsável por ter os demais países da América Latina em que a multinacional atua também sob sua responsabilidade.