Inquérito do BEI revela que quase 9 em cada 10 latino-americanos exigem políticas climáticas mais rigorosas

05/09/23 | São Paulo

Publicado na Revista Portuária

O Banco Europeu de Investimento (BEI) publicou as conclusões da edição do Inquérito do BEI sobre o Clima respeitante à América Latina e às Caraíbas.

A sondagem, realizada em maio de 2023, recolheu respostas de mais de 10.500 participantes de 13 países da região. O inquérito visa compreender a percepção das pessoas sobre as alterações climáticas, o impacto que estas têm na população e a sua expectativa quanto à resposta dos governos a esta situação.

Principais conclusões

91% dos inquiridos consideram que as alterações climáticas têm impacto na sua vida quotidiana.

88% são favoráveis a medidas governamentais mais rigorosas que obriguem as pessoas a adotar um comportamento respeitador do clima.

70% afirmam que as alterações climáticas estão a afetar os seus rendimentos ou meios de subsistência.

54% dos inquiridos acreditam que poderão ter de se mudar para outra região ou outro país devido às alterações climáticas.

80% consideram que se deveriam privilegiar os investimentos em fontes de energia renováveis.

Os resultados do Inquérito do BEI sobre o Clima revelam que as alterações climáticas e a degradação ambiental são agora consideradas um dos principais desafios nos países da América Latina e das Caraíbas inquiridos, a par da violência e da criminalidade, da pobreza e da desigualdade, do desemprego e dos desequilíbrios sociais. Apenas na Argentina , no Chile e no Paraguai não figuram entre os cinco temas que suscitam maior preocupação.

De um modo geral, a região apresenta uma percentagem relativamente baixa de negacionistas das alterações climáticas, com uma média de 5% por país. No entanto, os níveis variam, registando a Argentina a percentagem mais elevada com 9%, ao passo, que, na Costa Rica , esta percentagem é inferior a 2%. Mais de três quartos (76%) dos inquiridos da região reconhecem que atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis são os fatores que mais contribuem para as alterações climáticas. Esta sensibilização é crucial para mobilizar o apoio do público a políticas destinadas a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.

O impacto na vida quotidiana e as repercussões econômicas

Entre os inquiridos, 91% afirmam sentir os efeitos das alterações climáticas na sua vida quotidiana. Esta percentagem é particularmente elevada em todos os países inquiridos, variando entre 84 % no Uruguai e uns esmagadores 96% em Salvador . Da totalidade dos inquiridos, 57% consideram mesmo que as alterações climáticas os afetam muito, o que reflete as consequências tangíveis dos fenómenos meteorológicos extremos e da degradação ambiental. Além disso, 70% dos inquiridos afirmam que as alterações climáticas estão a afetar negativamente os seus rendimentos ou as suas fontes de subsistência. Este sentimento é partilhado pela maioria dos inquiridos em cada país, variando os valores entre 58% no Uruguai e mais de três quartos (77%) no Peru.

Preocupação com a migração relacionada com o clima

De acordo com uma das conclusões mais surpreendentes do inquérito, 54 % dos inquiridos pensam que poderão ter de se mudar para outra região ou outro país devido às alterações climáticas. Em 9 dos 13 países inquiridos, mais de metade da população acredita nesta possibilidade (de cerca de 50 % na Argentina a 61% no Equador ). Este sentimento é ainda mais forte entre os inquiridos mais jovens, sendo esta convicção partilhada por 59 % dos inquiridos com menos de 30 anos.

Apoio do público à atuação governamental

Entre os inquiridos, 88% são favoráveis à aplicação pelos governos de medidas mais rigorosas de combate às alterações climáticas. Este sentimento é claramente predominante em toda a região, variando as percentagens entre 83% na Argentina e no Brasil e uns impressionantes 95% no Peru , e demonstra disposição para aceitar alterações nas políticas e no estilo de vida em prol da sustentabilidade ambiental a longo prazo.

Quando questionados sobre qual deveria ser o objetivo principal dos governos, 80% dos inquiridos afirmaram que deveria ser a proteção do ambiente e o crescimento sustentável e não o crescimento económico a qualquer custo. Este resultado demonstra que o público está ciente da ligação entre a saúde ambiental e a prosperidade económica e que não está apenas preocupado em obter vantagens económicas imediatas.

Os inquiridos na região têm uma opinião positiva sobre as políticas destinadas a combater as alterações climáticas e as suas repercussões e a proteger o ambiente, sendo que 76 % consideram que estas políticas melhorarão a sua vida quotidiana, por exemplo facilitando a compra de alimentos ou o acesso a cuidados de saúde.

Quase três quartos (72 %) acreditam que as referidas políticas constituirão uma fonte de crescimento económico e de prosperidade para o seu país, e mais de dois terços (68 %) estão confiantes de que os novos postos de trabalho criados por aquelas políticas superarão os postos de trabalho que as mesmas irão eliminar.

Opções energéticas orientadas para o futuro

80% dos inquiridos afirmam que os governos deveriam dar prioridade aos investimentos em energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis ou de outras fontes de energia não renováveis. 51 % prefeririam fontes renováveis de grande escala, tais como as centrais hidroelétricas, eólicas, fotovoltaicas ou geotérmicas, ao passo que 29 % favorecem as fontes renováveis de menor dimensão, nomeadamente os painéis solares de telhado ou as centrais mini-hídricas.

Esta preferência esmagadora pelo investimento em energias renováveis reflete uma sensibilização crescente dos cidadãos da América Latina e das Caraíbas para a importância da sustentabilidade e o papel das energias limpas no combate às alterações climáticas.

Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do BEI responsável pela América Latina e Caraíbas e pela investigação económica, afirmou:

“O Inquérito do BEI sobre o Clima reflete a crescente consciência e preocupação da população da América Latina e das Caraíbas relativamente aos perigos das alterações climáticas. Através da EIB Global, pretendemos estabelecer parcerias com governos, cidades e empresas na região, a fim de apoiar a ação climática no terreno através de investimentos ecológicos e resilientes. Incentivamos potenciais clientes a contactar o nosso gabinete de Bogotá”.

Ambroise Fayolle , vice-presidente do BEI responsável pela ação climática, comentou:

“Os resultados do Inquérito do BEI sobre o Clima na América Latina e nas Caraíbas evidenciam uma forte consciência do público de que a transição ecológica pode ser uma força motriz do crescimento económico. No BEI, estamos firmes no nosso compromisso de ajudar a região a acelerar a transição ecológica e a reforçar a resiliência aos impactos das alterações climáticas”.