10/06/22 | São Paulo
Reportagem publicada pelo Diário da Região – São José do Rio Preto
Região de Rio Preto vai dobrar produção de energia solar nos próximos anos
A região de Rio Preto deve dobrar a produção de energia elétrica advinda do sol nos próximos dez anos. Atualmente, as duas usinas de energia solar em operação na região – Ouroeste e Pereira Barreto – produzem energia capaz de abastecer 1,2 milhão de pessoas, o equivalente a uma cidade do tamanho de Campinas (SP). Entretanto, com a construção da nova usina solar de Ilha Solteira, com previsão de início de operação até 2024, essa capacidade deve dobrar ao longo do tempo.
O crescimento do setor é motivado por dois fatores principais: a expectativa de maior consumo de eletricidade por conta do crescimento da frota de veículos elétricos e a redução da produção de eletricidade por meio das hidrelétricas, com as estiagens cada vez mais severas.
O incentivo a matrizes de energia renováveis e o crescimento da frota de veículos elétricos, como alternativa de descarbonização são o tema da sexta reportagem da série especial Caminho Verde.
Para o professor Flaminio Levy Neto, do departamento de engenharia mecânica da Universidade de Brasília (UnB), a tendência é da implantação de usinas híbridas no Brasil. Ou seja, a mesma usina hidrelétrica com um parque de painéis fotovoltaicos.
“É uma forma de compensar a produção nas hidrelétricas no período que não chove. Assim, quando está chovendo, usa a hidrelétrica para obter energia, já quando está no período de estiagem, e a incidência de raios solares é maior, a mesma usina investe na produção de energia por meio do sol”, explicou. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou neste ano a instalação de usinas híbridas.
A diversificação da matriz energética busca evitar o que aconteceu no ano passado no Brasil, quando, durante a pior crise hídrica dos últimos 91 anos, o País acionou as termoelétricas para compensar a menor produção de eletricidade pelas hidrelétricas – o que encareceu a tarifa para o consumidor.
“O caminho é chegar num ponto de equilíbrio. A energia fóssil é como quando você ganha uma fortuna de herança. Ela não é renovável, vai acabando. As renováveis, como a solar e a eólica, são intermitentes, ela não tem toda hora, mas nunca acaba”, disse Flaminio.
Outro ponto que também deve estimular o setor é que as usinas solares de grande porte geram eletricidade a preços até dez vezes menores do que as termelétricas fósseis emergenciais ou a importada de países vizinhos.
“Trata-se, portanto, do melhor momento para se investir em energia solar, justamente por conta do novo aumento já previsto na conta de luz dos brasileiros e do período de transição previsto na lei, que garante até 2045 a manutenção das regras atuais aos consumidores que instalarem um sistema solar no telhado até janeiro de 2023”, diz Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
Dados do Plano Decenal de Expansão de Energia, do Ministério de Minas e Energia, apontam que a capacidade instalada de placas solares no Brasil deverá quadruplicar nos próximos dez anos. A expectativa é que usinas hidrelétricas, que hoje lideram a matriz energética brasileira, passem de 58% para 42% de participação no abastecimento do País, enquanto a participação da produção de energia solar aumente de 2% para 11%.
A AES Brasil, responsável pela Usina de Energia Solar de Ouroeste, e a EDP Renováveis, que administra a Usina de Energia Solar de Pereira Barreto, dizem estudar implantar novas usinas na região de Rio Preto.
A AES Brasil, por exemplo, revelou ter dois novos projetos na região com expectativa de aumentar a capacidade de geração de energia em 120 megawatt (MW). Somente, a Usina Solar do grupo em Ouroeste, inaugurada em agosto de 2019, já é responsável por produzir energia para 480 mil famílias.
Já a EDP Renováveis, que inaugurou no ano passado o maior complexo de geração de energia solar do Estado de São Paulo, com mais de 600 mil painéis solares em Pereira Barreto e capacidade de produzir energia para 751 mil pessoas, promete até 2024 inaugurar o segundo parque de energia solar, em Ilha Solteira. (RC)
“Abastecimento” de veículo elétrico: especialista aponta necessidade de incentivo
A tendência de crescimento da frota de veículos elétricos também deve estimular o incentivo a fontes renováveis de energia. Assim, o sol que já é responsável por gerar energia elétrica e ligar a televisão de milhares de brasileiros também será o responsável por fazer os veículos a se movimentarem.
“O consumo de energia vai aumentar e o caminho são as fontes renováveis. Eu posso ter menos poluição com o carro elétrico, mas eu também preciso pensar de que forma estou obtendo essa energia. Não adianta eu descarbonizar com o carro elétrico, mas poluir mais para gerar energia que vai mover ele”, apontou professor Flaminio Levy Neto, do departamento de engenharia mecânica da UnB.
Estudo feito pela BCG em parceria com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que, até 2030, os modelos eletrificados devem responder por 12% a 22% das vendas de veículos no Brasil. Atualmente, eles respondem por 2% das vendas.
“A perspectiva é boa e o crescimento é constante. Por estarmos tendo maior diversidade de marcas, modelos e montadoras investindo na produção de carros híbridos e elétricos, a tendência é que o mercado cresça ainda mais nos próximos anos”, disse Márcio Severine, diretor de infraestrutura e membro do conselho diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
Em Rio Preto, dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) apontam que existem 346 veículos elétricos circulando cidade. O número baixo, é reflexo do alto preço – normalmente, o veículo é comercializado em valores superiores a R$ 200 mil na cidade. “Não é só incentivar no preço, é necessário também políticas públicas. Notamos um interesse dos municípios em construir estações de recarga de veículos, mas falta uma política federal de mobilidade elétrica”.
No mundo, alguns países já estimulam metas para reduzir a frota de veículos a combustão e incentivo aos elétricos. Na Europa, por exemplo, a Noruega promete até 2025 acabar com a venda de carros a combustão, trabalhando apenas com elétricos. Já na Holanda, na Suécia e em Israel, o fim da venda de veículos a combustão está previsto para acontecer em 2030.
Além disso, as próprias montadoras já estipulam metas para o fim da produção de veículos a combustão. A Volvo, por exemplo, que já tem 100% da sua linha composta por veículos híbridos e elétricos no Brasil, promete a partir de 2030 só vender veículos a eletricidade. “Hoje, já temos exemplos de empresas trazendo veículos elétricos a R$ 140 mil no Brasil. A tendência é que o valor diminua nos próximos anos”, falou Márcio.