02/03/21 | São Paulo
Nas próximas três décadas, cerca de 550 mil toneladas de painéis solares devem ser descartadas no Brasil, segundo estimativa da IRENA (Agência Internacional para as Energias Renováveis).
Atualmente, os módulos fotovoltaicos são projetados para durar entre 25 a 30 anos, mas diferente do que muita gente acredita, o descarte não ocorre exclusivamente no fim da vida útil do aparelho.
Segundo Leonardo Gasparini Duarte, sócio proprietário da empresa SunR, existem outros fatores que provocam o descarte do produto.
“Mesmo após atingirem a marca da vida útil, este material ainda consegue ser sustentável, se descartado corretamente. Hoje em dia é possível aproveitar mais de 90% dos materiais que compõem a tecnologia fotovoltaica, pois eles são tão recicláveis quanto uma latinha de alumínio”, explicou.
Uma das grandes dúvidas acerca da reciclagem dos módulos é o custo deste processo. Alguns sites na internet destacam que quanto mais módulos, maior o custo da reciclagem para este sistema.
Segundo Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), a afirmação não possui respaldo técnico. “Para que este descarte ocorra, serão apenas gerados custos logísticos até a destinação final”, disse.
Outra questão que também levanta dúvidas de muitos consumidores é à existência de uma legislação que seja responsável por regular e fiscalizar a reciclagem dos módulos. Segundo Sauaia, desde 2010 já existe uma lei que estabelece diretrizes para o descarte adequado.
“A Lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelece os objetivos, as metas, os instrumentos e as ações que devem ser seguidos para cumprir com o descarte e a gestão adequados para a preservação do meio ambiente. O setor solar também tem trabalhado esse tema de forma responsável, mantendo um diálogo com o Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, para articular a responsabilidade sobre o ciclo de vida dos sistemas fotovoltaicos”, disse ele.
O CEO da ABSOLAR destacou ainda que os módulos fotovoltaicos podem servir para gerar energia mesmo ao final de sua vida útil.
“É possível fazer uma repotenciação, ou seja, instalar mais módulos fotovoltaicos ao sistema para recuperar a potência original instalada e restabelecer a energia dos primeiros anos de operação. A reciclagem também pode ser uma opção, já que reaproveita o equipamento, sendo mais reciclável do que uma máquina de lavar roupas, por exemplo, que tem por volta de 70% de índice de reciclagem”.
Confira abaixo dez afirmações falsas sobre a reciclagem de painéis solares respondidos pelo time técnico do Canal Solar.
1) Os painéis solares geram montanhas de resíduos, aquecem o planeta, cobrem os habitats da vida selvagem e causam outros danos ecológicos.
Não é verdade. Os painéis solares são feitos majoritariamente de materiais recicláveis como plástico, cobre, vidro e alumínio. É importante lembrar que o painel solar, logo nos primeiros anos de vida, gera toda a energia elétrica consumida na sua fabricação. Depois disso, o painel solar vai produzir energia por mais 20 ou 30 anos, tipicamente, evitando o uso de outras fontes de energia poluentes. Portanto, a energia obtida dos painéis solares é muito ecológica. Sobre a cobertura de áreas de vida selvagem, isso é um grande engano. Normalmente as usinas solares são instaladas em áreas improdutivas, em regiões desérticas e não adequadas para a agricultura ou para outras formas de exploração.
2) Aproveitar a luz do Sol para servir a humanidade não é grátis, nem limpo, verde, renovável e sustentável. Tem um custo e será alto no fim da vida útil desses equipamentos.
Não existe nenhuma atividade humana que não utilize recursos do planeta. A fabricação de painéis solares requer matérias primas? Sim. Essas matérias precisam ser obtidas através de mineração? Sim. Os painéis solares vão precisar ser reciclados? Sim, tudo isso é verdade. Mas uma coisa é importante: a fonte de energia é limpa, pois toda a eletricidade é gerada a partir do Sol. E como falamos ali em cima na primeira pergunta, quando geramos energia solar deixamos de usar outras fontes poluentes. Sabia que mais de 50% da eletricidade usada no mundo atualmente vem da queima do petróleo e do carvão? Pois é. Parece uma boa ideia trocar essa energia poluente pela energia dos painéis solares.
3) Empresas de energia solar foram recompensadas com subsídios maciços e absolutamente nenhuma exigência é feita sobre o descarte dos resíduos.
Em muitos países europeus realmente houve incentivos. Mas no Brasil a energia solar não recebe qualquer incentivo. A fonte solar está crescendo e se desenvolvendo porque ela é rentável economicamente e porque a sociedade já começou a descobrir as vantagens ambientais da geração de eletricidade a partir da luz solar. Sobre o descarte dos resíduos, essa é uma preocupação que já existe em todas as partes do mundo. Usinas solares têm um prazo de vida superior a 20 anos. As usinas encontradas no Brasil têm apenas alguns anos de existência. Futuramente a reciclagem de usinas fotovoltaicas vai ser um excelente negócio e não faltarão profissionais e empresas para executar esta atividade.
4) Nenhuma regra do governo exige que as empresas solares reservem dinheiro para descartar, armazenar ou reciclar os resíduos gerados durante a fabricação ou depois que tenham deixado de funcionar.
Usinas solares apresentam baixo impacto ambiental e por isso não existe essa preocupação tão grande com os resíduos e o descarte. Os materiais usados nos painéis solares, bem como os materiais com que são feitos os inversores e outros componentes, são materiais comuns e facilmente recicláveis. Uma usina solar não é diferente de qualquer outro tipo de obra de engenharia. Não precisamos nos preocupar tanto com o seu descarte, assim como não nos preocupamos com o descarte dos equipamentos de usinas termelétricas e plataformas de exploração de petróleo, por exemplo. Práticas de reciclagem já existentes serão usadas no descomissionamento das usinas solares quando elas chegarem ao fim da sua vida.
5) A energia solar não é mais barata que o gás natural, pois são omitidos os custos de poluição e descarte, bem como perdas de habitat, ilhas de calor solar e a necessidade de geração de energia de reserva ou baterias.
A energia solar está se tornando tão barata, com a redução do custo dos equipamentos, que já pode competir com muitas outras fontes, inclusive o gás natural. Do ponto de vista ambiental, é uma competição desleal: a energia solar vence em disparada. Gerar energia a partir da luz solar não requer a perfuração e exploração de poços, o transporte em gasodutos e, principalmente, não requer a queima de hidrocarbonetos. Energia solar é limpa, não emite resíduos, não expele gases tóxicos para a atmosfera e ainda por cima usa uma fonte gratuita e inesgotável, que é o Sol. Ilhas de calor? Isso chega a ser engraçado. Na verdade as usinas solares são escudos de calor. Painéis solares não concentram o calor ou a energia do Sol. Pelo contrário, os painéis convertem em energia elétrica uma parte da energia da radiação solar que seria naturalmente recebida por qualquer outra superfície exposta à luz solar.
6) Painéis solares não podem ser reciclados e no Brasil ainda não há uma lei de controle e recuperação de resíduos de painéis solares.
Painéis solares são tão recicláveis quanto uma latinha de alumínio. Hoje é possível aproveitar mais de 90% dos materiais que compõem a tecnologia FV. No Brasil, essa tecnologia deve, por lei, ser descartada corretamente atendendo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) que define as diretrizes relacionadas à gestão integrada e ao gerenciamento dos resíduos, atentando para a obrigatoriedade das empresas em retornarem os resíduos descartados de maneira a evitar o descarte incorreto e a poluição ambiental.
7) Cada painel é composto por arseneto de gálio, telúrio, prata, silício cristalino, chumbo, cádmio e outros metais pesados. À medida que essas substâncias penetram no lençol freático, elas interferem no abastecimento de água, no meio ambiente e na saúde humana.
Existem, de fato, painéis solares que são produzidos com esses elementos (gálio, telúrio e cádmio), mas são muito raros. A quase totalidade dos painéis usados no mundo inteiro é fabricada de silício. O silício é um dos materiais mais abundantes do planeta e é encontrado naturalmente na areia e nos cristais de quartzo, por exemplo. O silício não é tóxico e não causa qualquer dano ao ambiente. O chumbo pode estar presente em quantidades muito pequenas nos painéis solares. Mas o chumbo está presente em praticamente tudo nas nossas vidas, inclusive no computador ou no celular que você está usando para ler este artigo.
8) Painéis usam metais pesados e adicionam de 3 a 4 ° C à temperatura média do ambiente em que estão situados.
As principais tecnologias de painéis no mercado – mono e policristalinos – não contêm qualquer quantidade de metais pesados e biocumulativos, como é o caso do mercúrio, por exemplo. Os painéis convertem boa parte da energia que recebem em eletricidade e uma outra parte se torna calor no próprio módulo, assim como em qualquer material deixado ao Sol. Como o módulo é construído intencionalmente para não refletir luz, já que o nosso objetivo é capturar o máximo possível, também não há grande reflexão desse calor do sol de volta para o ambiente. Portanto, dizer que os painéis aquecem significativamente o ambiente ao redor em que se encontram é uma má interpretação dos fenômenos que estão ocorrendo.
9) No Brasil ainda não há uma lei de controle e recuperação de resíduos de painéis solares.
Não existe uma lei sobre isso no Brasil e mesmo em outros países isso ainda é um tema em aberto. Na Europa já existe a preocupação com a reciclagem, pois muitos países europeus já têm sistemas fotovoltaicos chegando perto do final de sua vida útil. Devido ao baixo impacto ambiental das usinas solares e à grande facilidade de reciclagem dos seus materiais, é provável que o próprio mercado se encarregue de fazer a reciclagem, sem a necessidade de uma lei. Reciclar usinas fotovoltaicas vai ser um bom negócio daqui a alguns anos. Quem não vai querer reaproveitar todo o alumínio, aço, vidro e cobre existentes nas usinas solares?
10) O financiamento para o tratamento de resíduos fotovoltaicos não pode ser aplicado a painéis solares mais antigos.
Esta é uma afirmação que não tem base para ser feita. Por que haveria esta limitação? O que torna o descarte de painéis solares mais antigos diferente de qualquer outro descarte de painel solar ou de qualquer outro produto?