09/03/22 | São Paulo
Mais de 25 placas de energia solar foram instaladas na comunidade Terra Firme, em Porto Velho. Programa Mais Luz para a Amazônia ainda deve instalar 3 mil placas, em 68 comunidades, localizadas em 10 cidades do estado.
Aos 42 anos, Aldair Gomes Vieira, pôde, pela primeira vez, ter eletricidade durante 24 horas em sua casa, localizada na comunidade Terra Firme, na região do Baixo Madeira, em Porto Velho. Isso porque a comunidade recebeu mais de 20 placas de energia solar.
A partir de agora, Aldair e sua família poderão armazenar alimentos por mais tempo, consumir água gelada e usufruir do conforto que até então, estava garantido apenas às pessoas que residem nas regiões metropolitanas do país.
“A gente não podia trazer nada da cidade porque estragava. Hoje, você pode ter uma geladeira, um freezer pequeno, assistir o jornal e em muitos lugares aqui, não existia isso, a gente só ouvia os outros falarem”, disse.
Terra Firme está localizada na margem direita do rio Madeira, na capital de Rondônia. Para chegar, é necessário percorrer mais de 70 km de estrada de chão e mais de duas horas de lancha. Para os viajantes que atravessam o rio, a comunidade, rodeada por árvores, não passa mais desapercebida.
“Se tem luz, é sinal que tem um ser humano vivo”, disse Aldair.
Para minimizar a falta de energia, a Energisa, por meio do projeto do Governo Federal ”Mais Luz Para Amazônia’, instalou 26 placas de energia fotovoltaica na comunidade. A instalação deve atender mais de 20 famílias e garantir acesso a energia limpa aos ribeirinhos.
E mesmo morando ao lado do rio que mantém a maior hidrelétrica de energia do estado funcionando, o técnico de distribuição Sebastião Santiago, explica que não há como a eletricidade chegar por vias tradicionais de distribuição.
“Não é viável construir torres, é muito caro. A maneira mais fácil é a instalação de placas de energia solar. Não tinha energia na comunidade, era precário e hoje vocês estão vendo, temos energia“, explicou.
Mudança na rotina
A rotina sobrecarregada da Flaviane Santos, de 27 anos, esposa de Aldair e mãe de três crianças, foi facilitada com a chegada da eletricidade. Meses atrás, ela usava o tempo livre para garantir que a refeição da família não estragasse.
“As vezes a gente comprava as coisas e tinha que tratar tudo porque estragava. A gente chegava cansado e tinha aquela coisa para tratar, para colocar lá dentro [da casa] para não estragar e agora não, a gente limpa e guarda”, explicou.
Diferente do que passou na infância e em boa parte da vida adulta, os três filhos de Aldair irão crescer com uma rotina diferente, já que com a chegada da luz, eles poderão ter acesso as notícias da região e do mundo.
“Já muda a educação né?! Eles assistem muitas coisas e muitas coisas dali já servem de experiência para vida deles. A gente assiste jornal, então eles veem o que passa mundo afora e antes, a gente não tinha isso, porque a gente tinha o rádio, mas não tinha a pilha.”
Além da família de Aldair e Flaviane, outras 20 casas serão contempladas com a iniciativa sustentável da Energisa. Jorge, de 36 anos, comemora a chegada da energia, já que depende dela para trabalhar.
“Trabalho como barbeiro desde que eu tinha uns 16 anos. Moro aqui desde que eu nasci. A gente tinha um gerador, que a gente ligava pra poder trabalhar e agora, vai ficar bem melhor, vai aumentar a clientela”, disse.
Redução de gastos
Além de facilitar a rotina, a instalação das placas solares deve reduzir os gastos de Aldair, que anteriormente, era focado na manutenção de um motor a diesel.
“O diesel a gente gastava R$ 200, R$ 300 por mês e só tinha três horas de energia, das 6h às 9h, não podia passar e isso se o motor não quebrasse nenhuma peça”, explicou.
A iniciativa sustentável também gerou renda para os moradores, que depois de treinamentos, fizeram a instalação das placas cedidas pela empresa.
“Eles pegaram pessoas da localidade para trabalhar com eles e foi bom, porque gerou emprego”, explicou Alcinei, morador da comunidade Terra Firme a 36 anos.
Programa
Segundo o Governo Federal, o ‘Programa Mais Luz para a Amazônia (MLA)’ foi criado com o “objetivo de promover o acesso à energia elétrica para a população brasileira localizada nas regiões remotas dos estados da Amazônia Legal”.
A distribuidora de energia de Rondônia aponta que R$ 32 milhões foram investidos no projeto. Três mil placas devem ser instaladas em 68 comunidades, localizadas em 10 cidades de Rondônia e ao todo, 900 famílias devem ser atendidas.
De acordo com a World Wide Fund for Nature (WWF), cerca de 237 localidades não tem acesso a energia no Brasil. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a maior parte está na região Norte, nos estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá e Pará.
Placas de energia solar instaladas ao lado da casa dos moradores da comunidade Terra Firme, em Porto Velho (Foto: Thaís Nauara/g1)
Comunidade Terra Firme está marcada de azul no mapa (Foto: Reprodução/Google Maps)