Quais impactos das tarifas de Trump no setor de energia solar do Brasil?

14/04/25 | São Paulo

Matéria publicada por Portal Solar

Os aumentos de tarifas de importação implementados pelo governo dos Estados Unidos devem trazer impactos macroeconômicos negativos ao Brasil e, consequentemente, ao mercado de energia solar do país. Porém, o cenário pode trazer oportunidades, especialmente na atração de investimentos e na maior disponibilidade de produtos. A avaliação é da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

A entidade destaca que o pacote de novos impostos promovidos pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é avaliado como altamente protecionista, o que pode trazer reflexos no Brasil. “As decisões tarifárias dos EUA acenam para uma maior pressão inflacionária no país, com risco de aumentos de preços no maior mercado consumidor do Ocidente.”

“Adicionalmente, tais medidas podem levar a um fortalecimento do câmbio norte-americano frente ao real, o que traria pressão adicional aos custos na importação de insumos, partes, peças e produtos ao Brasil, inclusive aqueles voltados para energia solar fotovoltaica, armazenamento de energia elétrica e hidrogênio verde”, diz a entidade.

Oportunidades
Por outro lado, analistas de comércio exterior avaliam que tais medidas podem ser revertidas em oportunidades ao Brasil, sobretudo na atração de empresas e investidores norte-americanos interessados em diversificar para fora dos EUA em setores estratégicos, como no de energias renováveis.

Conforme a Absolar, outro potencial reflexo positivo seria a disponibilidade maior de equipamentos e produtos ao mercado brasileiro, que antes seriam destinados aos EUA e agora se tornaram menos competitivos naquele país, devido às tarifas aumentadas.

A associação destacou que o setor solar já passou por situações muito similares durante o primeiro mandato de Trump, sem sobressaltos. “Na verdade, naquele período, tanto o mercado fotovoltaico norte-americano quanto o brasileiro mantiveram-se em alta.”

O líder de mercado da consultoria Aurora Energy Research, Rodrigo Borges, destacou que o Brasil poderá ser visto como destino saudável para investimentos em setores como data centers, hidrogênio verde e eletrificação, o que demanda novos projetos de geração renovável, além de gerar possibilidades de exportação de commodities para os EUA.

“Com o aumento das tarifas, o Brasil pode produzir hidrogênio verde e diesel renovável , o que vai demandar mais geração renovável e baterias. Apesar do contexto macroeconômico pessimista, o cenário pode ser mais favorável na comparação com outros países”, declarou o especialista, durante evento Mercado Livre Absolar, realizado em São Paulo na quinta-feira (10/04).

Tensão global
Desde março, s Estados Unidos implementaram uma série de aumentos significativos nas tarifas de importação, incluindo uma tarifa de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio, afetando países como Brasil, Canadá e México. Essa medida eliminou isenções e cotas previamente concedidas a parceiros comerciais estratégicos.

Em resposta às essas medidas, a China aumentou suas tarifas sobre produtos americanos de 84% para 125%. Em retaliação, o Trump elevou as tarifas sobre produtos chineses para 125% com efeito imediato. A disputa comercial entre as duas maiores potenciais econômicas do mundo cria um cenário de incerteza global.

No Brasil, o impacto imediato foi uma forte variação cambial, com o dólar oscilando entre os patamares de R$ 5,80 e R$ 6,10 somente nos últimos dois dias. O cenário internacional traz perspectivas de dificuldades relacionas a inflação e taxa de juros, que já se encontra em 14,25%, maior nível desde 2016.